Chão Maior: “Drawing Circles” (Revolve)

Rui Eduardo Paes

Voltámos a casa, as salas estão fechadas, a cultura voltou a ser desconsiderada, mas a música não pára. No próximo dia 29 de Janeiro sai pela Revolve o primeiro álbum dos Chão Maior de Yaw Tembe, resultado de um trabalho que se iniciou em 2018 e já teve algumas oportunidades de se apresentar ao vivo. Os dois trompetes (o próprio Tembe e João Almeida), o trombone (Yuri Antunes), a voz (Leonor Arnaut), a guitarra (Norberto Lobo) e a bateria (Ricardo Martins) entregam-nos um jazz «em forma de deriva» que incorpora em si aspectos  de outras músicas (ou lá não estariam Lobo, o John Fahey português, e Martins, o mesmo dos Pop Dell’Arte e de Jibóia) e aceita as influências específicas da cosmovisão de Sun Ra, das harmolodias tácticas de Ornette Coleman e da sensibilidade soul de Eddie Gale em “Ghetto Music”, pelo caminho tecendo paralelismos e cruzamentos com a “land art” de Richard Long.

Tal como em Gume, outro dos seus vários projectos, Yaw Tembe surge aqui primeiro que tudo como compositor e líder de banda (se bem que «em função dos ciclos de respiração de cada músico», como ele próprio afirmou numa perspectiva ellingtoniana), firmando uma concepção musical que já vai sendo distintiva na cena nacional. No caso presente com formatos como a curiosa e reiterada combinação entre a acidez dos metais e a doçura da voz ou como a associação das linhas (as típicas da discursividade do jazz) de trompete com dedilhares de guitarra que são histórica e esteticamente distantes desta linguagem. Ou ainda como os uníssonos melódicos derivados do modelo bigbandístico se transfiguram num abstraccionismo textural que é mais específico da música livremente improvisada, e vice-versa, com uma imediatez e uma lógica espantosamente naturais. Já estamos conquistados quando, chegados a “Círculo 3”, os “drones” em onda dos sopros – fazendo-nos vagamente lembrar o La Monte Young de “The Melodic Version of the Second Dream of the High Tension Stepdown Line Transformer”, escrito para um “ensemble” de oito trompetes – são entrecortados pelos ritmos africanistas e repetitivos da bateria. Segue-se o entusiasmo, até aos últimos segundos do disco.

Agenda

01 Junho

André Santos e Alexandre Frazão

Café Dias - Lisboa

01 Junho

Beatriz Nunes, André Silva e André Rosinha

Brown’s Avenue Hotel - Lisboa

01 Junho

Ernesto Rodrigues, José Lencastre, Jonathan Aardestrup e João Sousa

Cossoul - Lisboa

01 Junho

Tracapangã

Miradouro de Baixo - Carpintarias de São Lázaro - Lisboa

01 Junho

Jam session

Sala 6 - Barreiro

01 Junho

Jam Session com Manuel Oliveira, Alexandre Frazão, Rodrigo Correia e Luís Cunha

Fábrica Braço de Prata - Lisboa

01 Junho

Mano a Mano

Távola Bar - Lisboa

02 Junho

Rafael Alves Quartet

Nisa’s Lounge - Algés

02 Junho

João Mortágua Axes

Teatro Municipal da Covilhã - Covilhã

02 Junho

Júlio Resende

Fábrica Braço de Prata - Lisboa

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