Nicolas Snyder: “Temporary Places” (Shhpuma)
Há discos que nos apanham à traição e este é um deles. Coloquei-o na gaveta e sentei-me a ouvir. A casa estava vazia, o tempo encarvoado e a música criou um mundo novo. Que disco bonito! Estava parado e, mesmo assim, viajei para um mundo artificial com fortes ligações naturais. Tal é o “the crux of the biscuit” deste músico (Nicolas Snyder de seu nome) criado na Pensilvânia, terra dos Amish, que trabalha como compositor, cineasta, documentarista e jardineiro: o acesso impossível à natureza feito através de sons. As gravações de campo incluídas, realizadas em florestas vietnamitas ou em grandes espaços naturais americanos, falam-nos de uma natureza funda que a maior parte de nós nunca viveu, mas que conhece de filmes ou documentários.
O que ouvimos é uma imensidão de sons a meio caminho entre a música concreta ou acusmática (sons a que não reconhecemos uma fonte original), montados e misturados com muito saber e sensibilidade. Uma delirante viagem sonora pelo mundo natural que é feita na nossa cabeça, proporcionada por um disco destinado a quem se vê obrigado a respeitar o espaço de casa e está cheio de saudades de tocar nas árvores.