Miguel Moreira: “The Darkness of the Unknown” (Carimbo Porta-Jazz)
A parceria da Porta-Jazz com o Guimarães Jazz tem resultado em alguns dos mais cativantes discos da editora gerida pela associação que junta os músicos de jazz do Porto, a esses agora se somando este “The Darkness of the Unknown”. O guitarrista Miguel Moreira é o compositor das peças aqui reunidas e com ele estão o clarinetista suíço Lucien Dubuis, o baterista Mário Costa – que já bem conhecemos das suas colaborações com Emile Parisien (e, no grupo deste, com luminárias como Michel Portal e Joachim Kuhn) e Hugo Carvalhais - e o percussionista Rui Rodrigues, membro do Drumming GP. No Guimarães Jazz de 2019 estava igualmente em palco o bailarino Valter Fernandes, convidado no contexto multidisciplinar que a Porta-Jazz e o festival da Cidade-Berço mantêm como chave para esta colaboração.
O mote está na ideia de desconhecido e numa formulação idealística do que poderá ser o devir da humanidade, algo que se pressente do início ao fim da audição deste álbum registado ao vivo. O que quer dizer que estamos perante um jazz futurístico, e nesse aspecto até com algo do imaginário de Sun Ra (oiçam-se, por exemplo, “How Do You Rehearse the Unknown” e “Drumming Water”, com alusões – seja por intenção do autor ou porque assim ouvimos – aos jardins extraterrestres do filme “Space is the Place”), ainda que bebendo referências na música electroacústica (o uso que Moreira faz de pedais de efeitos e processadores é notável) e no rock. A escrita é complexa, intrincada e cheia de volteios inesperados e nada fáceis de executar (implicava a interpretação por grandes músicos e ei-los que fazem brilhar as partituras do protagonista), mas sem cair na armadilha da ornamentação. Não há enfeites: o que surge são florescências exóticas, e estas numa sucessão para a qual não estamos de avanço preparados, sempre se revelando essenciais para os desenvolvimentos realizados. É o caso de “Future Loops From the Past”, talvez o tema mais alienígena do conjunto. Absolutamente brilhante.