Mazam: “Land” (Carimbo Porta-Jazz)

Rui Eduardo Paes

O saxofonista João Mortágua vai-se multiplicando em grupos e projectos, sinal de que tem coisas a dizer em diferentes planos. Mazam, o seu quarteto com Carlos Azevedo ao piano, Miguel Ângelo no contrabaixo e Mário Costa na bateria, não é apenas uma adição: com três dos mais consagrados – o ainda jovem Costa ganhou esse estatuto nos palcos europeus ao lado de figuras como Michel Portal e Joachim Kuhn – músicos do jazz portuense, Mortágua parece apostar em “Land” na busca de uma identidade colectiva, de banda, que vá mais além das perspectivas pessoais que deixou gravadas com Mirrors, Axes ou Dentro da Janela, e isto apesar de todas as composições deste disco serem suas. E os quatro intervenientes fazem-no a percorrer vários caminhos. Se “Casa”, o tema introdutório, cabe dentro dos parâmetros do jazz “moderno”, ainda que “mainstream”, já o seguinte “Mazamic” tem contornos exploratórios (trata-se de uma improvisação sem estrutura pré-definida) e “Vento”, o terceiro, deixa-se conotar com o chamado world jazz, por via de melodias vagamente alusivas à Europa de cultura islamizada.

Essa flexibilidade continua no alinhamento das faixas do álbum. O contemplativo “El Lirico” poderia constar no catálogo da ECM, enquanto “Quiet Day” joga com referências tanto do free jazz (oiça-se a entrada) como do jazz que, nos nossos dias, vai incorporando rítmicas hip-hop e r&b. “Ground” tem um desenho geométrico que algo deve a Steve Coleman ou a Steve Lehman, mas injectando expressão no que poderia passar por um exercício cerebral. “Sereno” não poderia ser mais coltraneano, na construção como na entrega, apesar do balanço que às tantas surge em jeito bossa nova, enquanto “Caos e Ordem” mergulha no universo da música livremente improvisada, com o contraste de um “riff” bem jingado. “Soneto” recorda que o jazz é uma música do crepúsculo (imaginamo-nos num bar em avançadas horas da madrugada), mas “Escalada e Salto” opõe-lhe considerações bem mais intelectuais. No fecho do disco, “Swim” é todo ele elegância e melancolia. Na capa vemos um rio (uma estrada?) a atravessar uma montanha aos ziguezagues, justificando imageticamente o que ouvimos, mas o que vem aqui não é uma identidade em divergência, e muito menos uma busca identitária – é, isso sim, a demonstração de que a essência de uma música pode manter-se mesmo quando as formas mudam. O que não é fácil.

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