João Guimarães Grupo: “Um” (Edição de autor)
Lembram-se do “Zero” de João Guimarães em formato de octeto, considerado pela jazz.pt como um dos discos de 2014? Seis anos depois – com muito caminho andado pelo meio – aqui está o “Um”, desta vez com um septeto em que encontramos Herman Mehari em trompete, Travis Reuter na guitarra eléctrica, Eduardo Cardinho no vibrafone, Óscar Marcelino da Graça no piano e no sintetizador, Francisco Brito no contrabaixo e Marcos Cavaleiro na bateria. A personalidade musical do saxofonista e compositor é a mesma, ainda que mais madura e experienciada, mas o enquadramento é outro: em vez do “groove” inspirado no Miles do período eléctrico (um Miles ainda mais free) que vinha nesse anterior disco temos agora um jazz de embalos líricos, elegante nos contornos, mas vibrante nos conteúdos, com a simplicidade das formulações a ser equilibrada pela afirmação dos desempenhos instrumentais, seja em termos colectivos como nos solos. Especiais valências têm os do líder no saxofone alto e os de Cardinho, sempre deliciosos.
É uma música dançante, balanceada, que aqui se propõe, com Guimarães a colocar-se, regra geral, ao serviço do grupo, em conjugações com o outro sopro que não só introduzem os temas como definem à partida um tipo específico de sonoridade, aquela que nos chega de toda a história dos emparelhamentos, no jazz, de um saxofone com um trompete. O rock e o funk ainda estão presentes, mas surgem mais nuançados e diluídos. O factor melódico ganhou afirmação, e ficam bem com o estilo pós-cool, à la Konitz e à la Desmond, deste altista do Porto. Essa vertente, bem como toda a elaboração harmónica que a sustenta, inclui mais este título ao rol daqueles que vêm marcando a existência de um jazz português (não obstante os dois intervenientes vindos de fora, Mehari e Reuter), assim chamado porque tudo o distingue dos outros jazzes europeus. João Guimarães está para ficar…