Frank Rosaly: “Todos de Pie!” (Kontrans)
De cada vez que um músico norte-americano, de jazz ou qualquer outro género, escolhe hoje uma temática latina, fá-lo em desafio ao trumpismo racista estabelecido. E quando esse “statement” vem com um título mobilizador, como este “Todos de Pie!”, não ficam dúvidas quanto ao objectivo. Já por si, isso é uma delícia, mas quando a figura em causa é alguém como Frank Rosaly, baterista e compositor residente em Amesterdão que entende que a desconstrução dos formatos e a subversão estética são as vias a seguir, mais achas na fogueira se adicionam.
Pois este jazz não é propriamente o afro-cubano, ou o alimentado a salsa, que conquistou Dizzy Gillespie, por mais que a substância deste disco venha inteirinha da América Central e do Sul, com Puerto Rico como principal referência. Pequenos-grandes “twists” vão sendo introduzidos, desde texturas que mais lembram Harry Partch ou Moondog (“Cantares de la Sierra”) do que propriamente Arturo Sandoval ou Carlos Santana a batidas que vão beber directamente ao punk (“Que Dulces Son las Canciones”), logo os dois temas de abertura, com os vocais pós-Dada de Jaap Blonk a despontar de uma “big band” de 12 elementos (com quatro percussionistas, três sopradores – ou sete, quando Rosaly, Ben Boye, Alex Farha e Nathan McBride também tocam harmónica –, teclados, guitarra, baixo) em que encontramos trombonistas de topo como Jeb Bishop e Nick Broste e em que todos cantam (em Castelhano, por supuesto!) e quatro recorrem a electrónicas várias. Mas atenção: o factor político, de resistência, está apenas nas entrelinhas; a música é de festa, para dançar e pular. Sin cerveza no hay revolución, diz o ditado…