Rui Caetano Trio: “Output” (Antena 2)
O anterior disco em nome próprio de Rui Caetano, “Invisível”, foi lançado em 2010. O pianista esperou uma década para que outro (este “Output”) chegasse a público e valeu bem a pena que ele e nós esperássemos: é este o título da sua definitiva maturidade como músico – músico porque o temos aqui inteiro nessa condição, aliando as suas capacidades como pianista e como compositor. O que estava em promessa concretizou-se e Caetano não o fez por menos: atreveu-se a chamar os dois ilustres membros que ficaram do trio de Bernardo Sassetti (uma das suas referências mais imediatas, a outra é Mário Laginha), os mesmos que agora acompanham João Paulo Esteves da Silva num outro grupo maior com o mesmo formato, Carlos Barretto e Alexandre Frazão. Com eles, sem medos, gravou esta pérola.
O antigo aluno de Chico Hamilton, Cecil McBee, Joe Chambers, Hal Galper e Phil Markowitz na New School University tem em “Output” a atitude de afirmação que dele esperávamos, num jazz bem interiorizado que revela a sua formação pianística clássica e que vai beber igualmente a outras linguagens musicais. O resultado vem confirmar, se outros exemplos não bastassem, que o “jazz português” de que tanto se fala não é apenas lusitano por ser tocado em Portugal. As oito peças reunidas têm aquele não-sei-quê que é impossível explicar tecnicamente e que vai mais além da “harmonia à portuguesa” a que Ricardo Toscano alude. Não se deixem enganar pelo Inglês que nomeia os temas, consequência da dimensão global que o jazz hoje tem. Nenhum trio de piano jazz norte-americano, francês, turco ou japonês tocaria o que aqui está desta maneira, e não é de competência que estou a falar. Essa está neste álbum plenamente comprovada.