Lisbon String Trio & Rodrigo Pinheiro: “Rhetorica” (Creative Sources)
O Lisbon String Trio (não confundir com o Lisboa String Trio de José Peixoto, Carlos Barretto e Bernardo Couto) continua a convidar outros músicos para explorações conjuntas no domínio da música de câmara improvisada, e desta feita o convidado é o pianista Rodrigo Pinheiro. A combinação entre uma viola (Ernesto Rodrigues), um violoncelo (Miguel Mira) e um contrabaixo (Alvaro Rosso) com um piano poderia resultar em algo que sublinhasse especialmente o factor “câmara”, mas assim não acontece e o título escolhido para este CD, “Rhetorica”, é esclarecedor quanto ao que está em causa. O carácter não só conversador como argumentativo que a música vai adoptando faz com que as quatro improvisações reunidas tenham mais vínculos com o jazz (muito explícita e assumidamente em “III”, por meio dos fraseados de Pinheiro) do que com a própria música dita clássica.
Muito longe daqui estão as lógicas “near-silence” com que o mentor desta formação, Rodrigues, costuma estar conotado. Expressão, emotividade, entrega ao som e fluidez desenvolvimentista são os factores distintivos desta música, e momentos há em que o trio de cordas nos remete para um grupo pioneiro nestas andanças, o Revolutionary Ensemble de Leroy Jenkins. O Ernesto Rodrigues deste disco toca com gestos largos e não teme ser palavroso – nisso chega a ter uma maior generosidade com os materiais em uso do que Miguel Mira, quando o mais natural (o percurso do violoncelista tem sido sempre mais jazzístico do que o do violetista) seria o inverso. O mais interessante desta edição é, de qualquer modo, outra coisa: a forma como os entrosamentos colectivos ocorrem sem ser por meio de compromissos individuais, numa sucessão de encaixes contributivos que, não obstante serem por vezes diferentes, se complementam. Em certos momentos conseguimos, inclusive, ouvir um comentário ao mesmo tempo em que se faz uma afirmação, algo que, nos domínios da música improvisada, só é possível explicar com a palavra “magia”.