What is to Be Done

Larry Ochs / Nels Cline / Gerard Cleaver. “What is to Be Done” (Clean Feed)

Clean Feed

Gonçalo Falcão

Olho para o vuímetro do meu “CD player” e os dois canais estão quase sempre no vermelho... A culpa é de “What is to Be Done”. O disco impressiona não só pela intensidade, mas, principalmente, pela imensa ligação do trio de sax, guitarra e bateria: a música sai natural, como se estivesse a ser pensada apenas por uma massa cinzenta. Este é o melhor disco para ouvir Nels Cline improvisar: sabíamos que o guitarrista de Los Angeles é amigo dos pedais, mas nos seus últimos projectos (Lovers e Nels Cline Singers) eles ficam tão bem-comportados que já nos tínhamos esquecido de que sabe usá-los com destempero. Neste novo álbum o processamento da guitarra através dos pedais é feito com mestria, fazendo lembrar o pai disto tudo, Henry Kaiser, um guitarrista genial que não tem a distinção que merece.

Ouvimos o regresso do punk jazz experimental, por onde Cline entrou neste mundo sem rede e nada do que se ouve soa àquilo que aflui ao cérebro quando ouvimos a expressão “guitarrista de jazz”: saturações, “pitch shifters”, freases repetidas à Glenn Branca, uma guitarra flamejante. Instalado o inferno, surge o saxofone grave de Larry Ochs, que toca com a aspereza de quem adolesceu num bairro difícil. Ochs é mais conhecido como CEO do Rova Saxophone Quartet, mas a sua história na improvisação é longa e começa com um trio com Fred Frith e Miya Masaoka (em koto) em 1998. Percebe-se assim melhor porque é que encaixa tão bem com a guitarra eléctrica. Leva 20 anos de prática. A improvisação e a intensidade também são o território do saxofonista, que se consegue encaixar perfeitamente e tocar com muita energia.

Gerald Cleaver marca a cadência e não deixa a locomotiva abrandar. O baterista e cúmplice de Joe Morris, Chris Lightap e Craig Taborn é camaleónico no sentido em que se adapta com imensa facilidade às formas que lhe são propostas: se o grupo toca clássico ele Joe Jona, se toca abstracto ele Cyrilla. Está verdadeiramente ali, em cada momento, e os seus tambores fazem avançar a música que está a ser criada adaptando-se rapidamente ao espírito que é sugerido pela guitarra e pelo saxofone, assumindo o suporte rítmico que melhor se adapta.

O trio fez um dos melhores discos em que pus os ouvidos este ano. Não soa a free jazz, não soa a rock, mas está entre estas formas, num lugar estranho em que as canções e as formas repetitivas e abstractas funcionam em alternância e dão-se a ouvir com muito prazer. Estando o disco sempre no vermelho, nunca sentimos que aborrece, que grita desnecessariamente ou que toca duro só para picar os miolos. É um disco de “combat jazz” no seu melhor, numa versão revista e actualizada para o século XXI.

  • What is to Be Done

    What is to Be Done (Clean Feed)

    Larry Ochs / Nels Cline / Gerard Cleaver

    Larry Ochs (saxofone tenor); Nels Cline (guitarra eléctrica); Gerard Cleaver (bateria)

Agenda

01 Junho

André Santos e Alexandre Frazão

Café Dias - Lisboa

01 Junho

Beatriz Nunes, André Silva e André Rosinha

Brown’s Avenue Hotel - Lisboa

01 Junho

Ernesto Rodrigues, José Lencastre, Jonathan Aardestrup e João Sousa

Cossoul - Lisboa

01 Junho

Tracapangã

Miradouro de Baixo - Carpintarias de São Lázaro - Lisboa

01 Junho

Jam session

Sala 6 - Barreiro

01 Junho

Jam Session com Manuel Oliveira, Alexandre Frazão, Rodrigo Correia e Luís Cunha

Fábrica Braço de Prata - Lisboa

01 Junho

Mano a Mano

Távola Bar - Lisboa

02 Junho

Rafael Alves Quartet

Nisa’s Lounge - Algés

02 Junho

João Mortágua Axes

Teatro Municipal da Covilhã - Covilhã

02 Junho

Júlio Resende

Fábrica Braço de Prata - Lisboa

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