Daniel Neto Quinteto: “Olho de Peixe” (Ed. de Autor)
Saído no final do ano que passou, este disco falhou muitas listas dos melhores de 2018, mas merecia ter tido maior projecção na altura. Ainda vai a tempo, pois o guitarrista e compositor Daniel Neto é mais um protagonista do bom jazz que se está a fazer em Portugal e dele muito é de esperar no futuro. Ao seu segundo título (o primeiro, “Embrião”, saiu em 2014), o músico português nascido na Alemanha marca definitivamente a sua posição na cena nacional. Carregado de referências estilísticas nos domínios do jazz (as duas versões de “Planeta D2”, mas não só, remetem-nos para Eric Dolphy), mas indo também para as praias do rock, “Olho de Peixe” parte de um conceito de composição que muito deve a Frank Zappa, e se isso fica claro logo ao segundo tema, “Amanhecer Urbano” (não obstante os desenvolvimentos irem na direcção da música improvisada mais abstracta), no alinhamento posterior uma peça do próprio guru dos Mothers of Invention merece uma “cover”, “Little Umbrellas”, retirada do álbum “Hot Rats”.
Mas não, não se trata de mais uma incursão pelo universo zappiano ou pelo de Dolphy: cada faixa é um corpo de ideias, com eficaz tradução prática, que vai para muitos outros lados, sempre mantendo uma linha de coerência e revelando uma já sólida personalidade musical. Tanto quando se toca uma simples balada “mainstream” (“Sangue do Sangue”) ou um blues (“Aldeia Azul”) como quando se explora livremente a linguagem do prog (“Um Bicho com Espinhas”), remetendo-nos, por exemplo, para King Crimson e Soft Machine, enquanto pelo caminho surgem soluções conotáveis com o chamado pós-rock de uns Tortoise ou de uns UI. Isto, é de notar, sempre com um trabalho melódico e harmónico que segue a par do melhor que vai caracterizando o jazz português – legítimas, de resto, são as comparações que se possam fazer com os Home de João Barradas. Até pelo facto de também um vibrafone ser utilizado (por Paulo Santo), numa formação atípica que congrega os préstimos dos clarinetes de Ricardo Ribeiro, do contrabaixo de André Rosinha e da bateria de Miguel Moreira. Venha mais!