Signs of the Sillhouette: “Wigwam” (Bam Balam Records)
Longe vai o tempo em que a prática da improvisação se relacionava privilegiadamente com o jazz. São cada vez mais numerosos os casos de projectos de música improvisada com idioma definido a partir do rock, e os portugueses Signs of the Sillhoutte contam-se entre os ditos. O que encontramos no novo “Wigwam” está, uma vez mais, parametrado pelo psicadelismo rock, mas a abordagem tipo “jam” do grupo explicita mais associações com o jazz do que aquelas que poderíamos esperar quando é essa a moldura – basta, aliás, ouvir os solos de Jorge Nuno, o guitarrista, para percebermos que a grande referência desta música está em John Coltrane, ainda que mediada por traduções guitarrísticas do espírito coltraneano como a de John McLaughlin e Carlos Santana em “Love, Devotion and Surrender”. Não estranha, pois, que esta banda tenha buscado no seu percurso colaboradores como o Hernâni Faustino do Red Trio ou que o próprio Nuno, em outras incursões, tenha tocado com, por exemplo, o saxofonista José Lencastre e o trompetista Luís Vicente.
Nesse aspecto, este disco vem na sequência dos conceitos de sempre, mas há substanciais diferenças: se até recentemente a sua vertente sonora se cumpria em duo com o baterista João Paulo Entrezede (teve sempre um terceiro elemento a cargo dos visuais, estando Miguel Cravo – o “design” da capa tem a sua assinatura – de volta a essas funções), conta agora também com o baixo de André Calvário, membro dos Dead Vortex e dos Cardíacos. A música mudou, ficou mais pesada e negra, com o centro de gravidade a baixar por meio de “riffs” que nos remetem para o stoner e o doom metal. Como vem sendo de regra, os Signs of the Sillhouette contam aqui com um par de convidados, um deles bastante especial: nem mais nem menos do que Makoto Kawabata, o líder dos Acid Mothers Temple, que ouvimos em “Pressure Time Field” e “Physics”. Os sintetizadores analógicos do outro, Eduardo Vinhas, nos temas “Waverider”, “Physics” e “Spectroscopy” relacionam ainda mais o álbum com aquela emblemática banda japonesa, duplicando a sua instrumentação. Depressa percebemos, porém, que o propósito não é replicar esta e sim construir algo de distintivo em relação, disso se saindo muito bem.