Giovanni Guidi: “Avec le Temps” (ECM)
Se o presente grupo de Enrico Rava tem uma guitarra como instrumento harmónico, quem lhe segue as pisadas sabe que o seu pianista de eleição, e parceiro em muitas circunstâncias, é Giovanni Guidi. Com ele, de resto, gravou dois discos para a mesma ECM que agora lançou este, “Tribe” e “On the Dance Floor”, o último saído um ano depois de também Guidi assinar contrato (2011) como solista na editora de Manfred Eicher. Sabe ainda quem segue o que fazem os músicos que tocam ou tocaram com Rava que este Guidi tem tido o português João Lobo como frequente parceiro, e ei-lo que surge nas duas formações de “Avec le Temps”: o trio de piano jazz com Thomas Morgan no contrabaixo que toca na faixa-título e no tema “Tomasz”, dedicado ao recentemente desaparecido trompetista Tomasz Stanko, e o quinteto que os três integram, nas restantes faixas, com Francesco Bearzatti no saxofone tenor e Roberto Cecchetto na guitarra. Lobo já tinha antes aparecido num registo da ECM com o líder deste álbum e com Morgan, “City of Broken Dreams”, de 2013. Na altura, a “label” alemã apresentou-ocomo um baterista «original que molda a música poeticamente com a sua delicada utilização dos pratos» e volta a ser assim neste novo contexto, confirmando as qualidades do músico de Lisboa radicado em Bruxelas.
Sim, “Avec le Temps” é uma “cover” da canção de amor e perda composta por Leo Ferré, e o facto de abrir o disco introduz desde logo o carácter emocional e sentido que o percorre até ao último minuto, bem como o tipo de relação que existe entre escrita, improvisação, arranjo e produção (de Eicher, como não podia deixar de ser). O que quer dizer que esta música acentuadamente “moody” não segue um único estado de espírito: é, sim, feita de contrastes, a começar pelos ambientes e pelos doseamentos de energia, num equilíbrio entre a expressividade sul-europeia e latina do jazz italiano e o tipo de contenção que Thomas Morgan tão bem representa. Altamente recomendável.