Francesco Cusa & The Assassins Meets Duccio Bertini: “Black Poker” (Clean Feed)
Comecemos pela ficha técnica deste jogo de póquer: de um lado temos os The Assassins, quarteto de jazz, e do outro o “Florence Art Quartet, um quarteto de cordas clássico. A orientar a sessão está, do lado dos Assassins, o seu baterista, Francesco Cusa, que escreve a música e toca-a em quarteto com piano, trompete e saxofone. Do outro lado está o pianista Duccio Bertini, que agarra no material escrito por Cusa e arranja-o para um quarteto de cordas com dois violinos, viola e violoncelo. O resultado de todo este complicado jogo é uma música excelente. Por vezes parece que estamos a ouvir a banda-sonora de um filme na melhor tradição dos italianos (Morricone, Einaudi, Rota), com arranjos densos e uma música rápida e barroca, cheia de acontecimentos e de soluções musicais interessantes. Um “zapping” por diversos ambientes, com o quarteto de cordas a interpretar arranjos sofisticados e o de jazz a tocar as pautas com um rigor clássico e a delas sair para improvisações em que os músicos facilmente navegam sem rede. As ditas mostram um saxofonista com um fraseado rápido e melódico, sendo também justo destacar a enorme delicadeza da bateria de Cusa, que ritma mas também melodeia.
Há imenso trabalho de escrita e de arranjo e cada segundo parece ter sido cuidadosamente pensado. A música tem uma densidade de ideias e eventos rara no jazz. Instalam-se e desaparecem muito rapidamente e cada tema do disco tem – ou parece ter – 20 canções dentro. Apesar de não haver baixo, o órgão Hammond e o violoncelo suprem esta falta e temos frequentemente uns ciclos graves com um travo a funk. Non sei capace di tenerti un cece in bocca: a Itália deu cartas no final de 2018 com uma série de óptimos discos, dos Roots Magic, de Flavio Zanuttini com os Opacipapa e agora Cusa com os Assassins e Duccio Bertini. Para quem não está atento, não pode dizer que não foi avisado.