Joana Guerra: “OsSo” (Armures Provisoires)
Falhei este disco na minha lista dos melhores de 2018 - saiu em Outubro e só consegui ouvi-lo no final do ano, já com o balanço da jazz.pt feito e publicado. É impossível determinar o peso que a improvisação teve nos três temas reunidos em “OsSo”, criados para uma coreografia-instalação de Marina Nabais, “Na Ausência do Meu Corpo”, mas a relação que a música aqui contida tem com o jazz não difere muito da dos discos de David Darling para a ECM. À semelhança do “Cello” deste, saído em 1992, tem um carácter paisagístico, melancólico e misterioso que nos enleva e transporta nos seus caminhos.
Neste breve álbum que não chega à meia-hora encontramos outras situações referenciáveis: “Natureza de Pedra” remete-nos para o Arthur Russell de “World of Echo”, “Humidade” retém o carácter evocativo das suites para violoncelo de Bach e o final de “Calcificação” conduz-nos para o mundo de Salvatore Sciarrino, designadamente certos aspectos que surgem em “Ai Limiti della Notte”. Seja como for, a dimensão “folky” das abordagens (de nenhum modo relacionáveis com Leyla McCalla) e a desconcertante combinação de uma enorme subtileza com uma profundidade de precipício são caracteristicamente desta violoncelista e cantora que encontramos nos circuitos portugueses da música livremente improvisada e da experimental. “OsSo” é de uma beleza dolorosa que intriga tanto quanto comove, colocando definitivamente a jovem artista no topo da melhor música criativa que se faz hoje em Portugal. Vénia.