HHY & The Macumbas: “Beheaded Totem” (House of Mythology)
Jonathan Uliel Saldanha chama a este seu projecto “cybernetic voodoo dub”, mas a designação só nos prepara para uma parte do que vem neste “Beheaded Totem”, o segundo título discográfico dos HHY & The Macumbas – aquela em que se enovelam uma electrónica derivada do ambientalismo (a cargo do próprio Saldanha e de Nyko Esterle), uma misteriosa e muito, muito escura dose de ocultismo tribalista, garantida pelos percussionistas Brendon Hemsworth, Filipe Silva, Frankão e João Pais Filipe, e o tipo de manipulações de gravação do reggae que resultou em todo um subgénero. Não nos prepara, por exemplo, para o que permanece nesta música das mundividências que Sun Ra aplicou na sua Arkestra ou de certas incursões pan-africanistas que surgiram nos territórios do free jazz – lembro-me, por exemplo, de “A Message From Mozambique”, dos Juju.
Nada nos desvenda, igualmente, quanto à dimensão umas vezes de fanfarra bêbada e outras mais parecendo militar ou wagneriana, tal a sua pujança épica, dos sopros (Álvaro Almeida, André Rocha e Rui Fernandes), ou o que nos planos circulares dos temas reunidos há de devedor às estratégias do minimalismo norte-americano dos Sessentas e do rock alemão dos Setentas. Uma coisa é certa: fora dos domínios da música electroacústica “erudita” e da, experimental, que surgiu nas franjas do techno e da media art, este grupo propõe um outro entendimento da psico-acústica, o que quer dizer que é na nossa individual percepção que os temas se trabalham e se “resolvem”. Ou seja: é preciso escutar este disco activa e exclusivamente, não servindo como fundo para fazer a contabilidade doméstica, para viajar pela Internet ou para conversar. Ouvir apenas está hoje em desuso, mas este sincretismo futurista é nisso deliciosamente retro.