Alexandre Coelho Quarteto: “Idiosyncrasies” (Carimbo Porta-Jazz)
Segundo os dicionários, o termo “idiossincrasia”, em medicina, é aplicado quando se verifica a «predisposição particular de um organismo para reagir de maneira individual a um estímulo ou um agente externo», enquanto nos âmbitos da sociologia e da psicologia refere uma «característica peculiar do temperamento ou do comportamento de uma pessoa ou de um grupo» ou, simplesmente, uma «maneira de agir específica de uma pessoa». Ao ouvirmos o tema-título deste novo opus do Alexandre Coelho Quarteto, “Idiosyncrasies”, ficamos baralhados: trata-se de uma composição do mais explícito, e restrito, be bop, e se este é tocado com o fogo que o estilo implica, não se regista qualquer peculiaridade interpretativa.
É no seguimento do disco que vamos apanhando as manifestações de personalidade própria, sempre em reacção ao estímulo bop escolhido, surgindo ora na própria escrita do baterista líder, ora nas execuções individuais e colectivas – e sobretudo nos solos improvisados – de Alexandre Coelho e dos seus pares, designadamente João Mortágua no saxofone alto (magnífico, como vai sendo hábito, e regra geral com uma contrastante abordagem cool), Gonçalo Moreira no piano e João Cação no contrabaixo. As coordenadas dessa tendência histórica do jazz são esticadas e dobradas, tornando o modelo na expressão de uma música do tempo presente e do lugar em que é criada, numa europeização, se não mesmo num aportuguesamento, da americanidade própria do bop – repare-se, por exemplo, na melodia de “Next Stop, Lisboa”. Apetecia que a banda fosse mais longe na forma como adopta os termos do “agente externo”, decompondo-o, manipulando com mais atrevimento as suas coordenadas ou o que mais se proporcionasse numa averiguação de outras implicações da perseguida idiossincrasia, mas a qualidade do que nos vai sendo exposto faixa a faixa quase nos faz esquecer esse desejo. É neste “quase” que está, no entanto, o problema, isso se quisermos que o rigor conceptual (para todos os efeitos, o título revela um conceito) se sobreponha ao prazer da audição, porque o que obtemos é uma quase “idiosyncrasie”.