Roque: “Roque” (edição de autor)
A estreia em disco do guitarrista e compositor João Roque ouve-se com agrado, devido à sua abordagem “moody”, ao carácter cantável das melodias e às atmosferas pausadas que conjuga, mas nunca chega a entusiasmar e em nenhum momento levanta voo, levando-nos consigo. Os temas não abrem muito à improvisação (a única faixa que é dedicada a esta, um solo do contrabaixista Xico Santos, dura pouco mais de um minuto), espartilhando a dita nos moldes impostos pelos formatos disco e canção. Disso resulta uma música bonita e competentemente executada, segundo os cânones baladeiros da pop e da folk, com importações do rock (uma das composições intitula-se mesmo “Lou Reed”) e visitas a vários géneros (o reggae em “Origami”, o be bop em “Cat’s Craddle” – o mesmo nome de dois outros grupos de Roque, o Cat’s Craddle Trio e o Cat’s Craddle Quartet – e o tango no óbvio “Tango”), mas com resultados invariavelmente redondos, limpinhos, passivos na adopção das formas que utiliza e na articulação dos conteúdos e com um teor escolástico que surpreende pela negativa.
Depois das muitas surpresas, ao nível da criatividade, do arrojo e da afirmação das personalidades musicais envolvidas a que vimos assistindo no jazz português dos últimos anos, inclusive com a participação de alguns dos músicos aqui reunidos (o baterista David Pires pertence à banda de Bruno Pernadas e o saxofonista João Capinha trabalha com Desidério Lázaro), “Roque” representa um regresso à anterior normalidade do mesmo. Um regresso à ideia de que basta tocar bem e ser amigo do ouvido na escrita, sem arriscar nem levantar ondas. Nada mais acontecendo ao longo deste álbum para além de uma toada prazenteira, depressa se instala o tédio na audição, e isso é uma pena. A bitola do jazz que se pratica em Portugal está alta e esta edição, infelizmente, não lhe corresponde. As bases existem, no entanto, ao longo deste CD, pelo que é de esperar que depressa os Roque dêem o salto que falta dar.