Mário Laginha / Julian Arguelles / Helge Norbakken: “Setembro” (Edition Records)
Ainda “Setembro” não foi oficialmente editado (o lançamento está marcado para daqui a uns dias, 6 de Outubro) e já a crítica internacional projectou este disco (gravado ao vivo na Casa da Música, em 2014) para a ribalta, encarando a sua música, e o papel que nela tem o português Mário Laginha (é o autor de oito dos 10 temas, além de o ouvirmos numa fulgurante intervenção pianística), como uma refrescante novidade. E no entanto, este é um trio já com um longo percurso, com uma primeira prestação pública datando de 2001, e tem até um álbum anterior: “20 Anos Jazz no Parque”, com selo da Fundação de Serralves, e que como o próprio título indica assinalou o 20º aniversário daquele ciclo de concertos, em 2012 – documentando o concerto realizado no ano anterior nesse mesmo contexto. Fora do âmbito estrito deste grupo, foram já várias as colaborações de Laginha com o saxofonista britânico Julian Arguelles e o baterista e percussionista norueguês Helge Andreas Norbakken.
Com o primeiro, por exemplo, tal aconteceu num CD da série Guimarães Jazz / TOAP Colectivo, o “Vol. V”, em que também participaram André Fernandes, Nelson Cascais e Marcos Cavaleiro, e são igualmente de assinalar o concerto que o pianista compôs para Arguelles com o acompanhamento da Orquestra Sinfónica de Lisboa e uma actuação em louvor da «universalidade da música» em que o mesmo (tal como, de resto, Norbakken) surgiu a seu lado numa formação em que também constaram Tcheka, Bernardo Moreira e Alexandre Frazão. Norbakken esteve, por sua vez, com Laginha e Maria João em títulos como “Chorinho Feliz” e “Mumadji”. Seja como for, o que já foi escrito a propósito de “Setembro” tem plena justificação: no contexto do jazz europeu, o que aqui vem apresenta uma personalidade musical própria, algo que é sempre bem-vindo para contrariar qualquer tendência para um esgotamento de fórmulas e tipos de abordagem. O lirismo melódico que imediatamente reconhecemos como uma marca de Laginha, reforçado pela elegância expositiva de Arguelles, o muito rico trabalho harmónico desenvolvido, um “drive” e um sentido da pulsação notáveis (repare-se nas polirritmias vagamente africanas de Norbakken) e uma interacção improvisacional que transcende quaisquer nichos estéticos dentro do jazz são os grandes argumentos em presença. Em suma: estamos perante mais uma preciosidade.