Staub Quartet: “House Full of Colors” (JACC Records)
Calhou que este “House Full of Colors” fosse lançado pouco tempo depois de outro disco dominado por instrumentos de cordas com a participação de Carlos “Zíngaro”, “Chant”. A coincidência serviu ainda mais para salientar as diferenças existentes entre o Staub Quartet e o Nuova Camerata. Se esta última formação tem como mote a invenção de uma outra música de câmara (improvisada, sim, mas na continuidade da tradição escrita), já o projecto perseguido pelo quarteto formado, além do mencionado violinista, por Marcelo dos Reis em guitarra, Miguel Mira no violoncelo e Hernâni Faustino no contrabaixo, sustenta as suas estratégias musicais no envolvimento dos cordofones de arco num tipo de improvisação que, regra geral, privilegia os sopros. As participações do contrabaixista Miguel Leiria Pereira, do violoncelista Ulrich Mitzlaff e de Pedro Carneiro – o maestro da Orquestra de Câmara Portuguesa – na marimba mediaram as conexões clássicas ouvidas em “Chant”, mas agora os nomes de Mira e Faustino indicam-nos que a matriz estará no jazz, o da versão free, e nessa tendência a que Derek Bailey chamou «música não-idiomática», em se tratando deles fazendo prever uma exploração das ambiguidades entre as duas frentes estéticas. E assim é, de facto…
Se, no Nuova Camerata, Carneiro funcionou duplamente como o “joker”, o instrumentista fora do naipe (se bem que tomando a marimba como outra fonte sonora fabricada em madeira), e como o íman da procurada condição de câmara, no Staub Quartet é dos Reis que está simultaneamente fora, por tocar o único instrumento dedilhado, e dentro, por também ele utilizar cordas. O curioso é que é ele, sobretudo, quem introduz padrões rítmicos fixos, por meio de repetições de motivos, agindo como o esqueleto do todo. Ou seja, se o eixo jazz / improv é estilisticamente garantido por Miguel Mira (Rodrigo Amado Motion Trio) e Hernâni Faustino (Red Trio), acaba por ser o guitarrista de Coimbra a fornecer grande parte dos elementos figurativos desta música tendencialmente abstracta. A nível de pulsação, entenda-se, pois as referências eruditas e vagamente “folky” de “Zíngaro” fazem o mesmo do lado melódico, por mais que essas melodias sejam fragmentadas ou distorcidas. Uma coisa é certa: a visceralidade de certas passagens deste CD é indubitavelmente a do free jazz e a da free music. Não a encontramos na “nuova camerata” que por estes dias se vai construindo.