Renato Dias Trio: “Suspiro” (Carimbo Porta-Jazz)
Quando estamos perante um trio de guitarra, contrabaixo e bateria, a nossa tendência é para esperar que a música criada ganhe volume, intensidade e conotação rock, mas no caso deste “Suspiro” assim não acontece. Renato Dias e os seus parceiros, Filipe Teixeira e Filipe Monteiro, seguem por outra via, e não só o jazz que abraçam opta pelos tempos lentos e médios como vai ganhando uma atmosfera onírica que nos desliga do resto do mundo. Quando os temas têm estas características, usual igualmente é encontrar alguma melancolia “à portuguesa”, mas mais uma vez o trio troca-nos as voltas: há por estes temas uma leveza que afasta quaisquer alusões nostálgicas àquilo que não se viveu, ao sofrimento amoroso, às nossas interrogações sobre o sentido da existência ou o que seja.
Este não é um disco triste ou “bluesy”, e ao contrário do que diz o seu texto de apresentação, não foi concebido para se ouvir em dias chuvosos. Mais verdadeira é a noção de que se trata de um pôr-do-sol musical, com boas construções harmónicas a servirem a saliência melódica. Às tantas, as 10 faixas do álbum mais parecem não ser composições independentes, mas andamentos de uma estrutura global, surgindo numa estranha, porque fragmentária, continuidade, entre “Breathe In”, a peça de introdução (uma inspiração) e “Breathe Out”, o nada conclusivo fecho, mais parecendo convidar a outra entrada de oxigénio (uma expiração). É como se a música decorresse no tempo em que o ar fica nos nossos pulmões, uma brevidade que se eterniza…