Joe McPhee: “Flowers” (Cipsela)
Muito se foi falando ao longo destes últimos anos sobre este concerto. Os que a ele não assistiram só podiam imaginar o que foi pelas palavras que meia-dúzia de testemunhas ia repetindo. Expressões como «genial» eram respondidas com uns «ora bolas». Aconteceu o dito em Junho de 2009, quando decorria a sétima edição dos Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra. O evento incluía uma exposição, no Museu Machado de Castro, de cartazes de jazz concebidos por Niklaus Troxler, o fundador do festival Jazz in Willisau, e uma figura histórica do free jazz da década de 1970, Joe McPhee, de que o próprio Troxler tinha sido um dos primeiros responsáveis a trazer à Europa, foi convidado a tocar na inauguração. Sozinho, e com um instrumento em que na altura por cá ninguém lhe tinha ouvido em disco, o saxofone alto – passara a acrescentá-lo então aos demais que domina, designadamente os saxofones tenor e soprano, o clarinete alto, o trompete de bolso e o trombone de pistões. Pois é o registo dessa actuação que acaba de ser publicado, com selo da conimbricense Cipsela. Em boa hora e depois de, na sequência de outras vindas a Portugal, McPhee se ter juntado ao português Rodrigo Amado para actuações ao vivo e a gravação do álbum “This is Our Language”, considerado pela imprensa internacional especializada como um dos melhores do ano de2015.
Ao terceiro tema, uma peça escrita “back in the days”, Troxler é homenageado por Joe McPhee, um dos dois únicos não-músicos (o outro é o pintor Alton Pickens) de uma série de dedicatórias a Ornette Coleman, John Tchicai, Mark Whitecage, Anthony Braxton e Julius Hemphill, todos eles, note-se, mestres do sax alto. O multi-instrumentista pega nas ideias de cada um, avalia-as, decompõe-nas e assimila-as nas suas próprias e muito pessoais, comprovando que também ele figura nesse pódio. Nenhuns materiais se repetem, inesperadas soluções vão surgindo como se fossem coelhos saídos de uma cartola e o CD vai rolando sem nunca o facto de se tratar de um solo de saxofone nos cansar. A decisão dos dois responsáveis da Cipsela Records, Marcelo dos Reis e José Miguel Pereira, de finalmente publicar este documento é de louvar muito especialmente, e se nos sentimos – os que não estivemos lá nesse dia – de alguma maneira compensados, também fica a certeza de que ouvir um disco não é o mesmo que estar ali fisicamente, diante de Joe McPhee.