Gileno Santana / Tuniko Goulart: “Inevitável” (Calígula)
Compreende-se o motivo do título deste CD em que encontramos Gileno Santana a tocar em duo com o guitarrista Tuniko Goulart: era inevitável, de facto, que o primeiro trompetista da Orquestra Jazz de Matosinhos e líder dos seus próprios grupos e projectos (começando pelo jazz eléctrico de “Metamorphosis”, já aqui cronicado), voltasse os ouvidos para as suas raízes musicais – está no Porto desde 2006, mas é baiano de nascimento. Este é um disco sobretudo de choros, com um par de sambas pelo meio e temas inspirados na Bahia, mas o curioso é que não se ouve como um disco. Os dois músicos brasileiros anunciam cada um dos temas, como se estivessem a conduzir uma emissão radiofónica. A opção pode ser discutível, mas depressa compreendemos o seu porquê: a predisposição é de nos interpelar individualmente, cortando as distâncias habituais impostas por este mediador / suporte musical.
Curioso é o facto de Santana não procurar, sequer, tocar “jazzisticamente”, que era o que dele esperávamos, mesmo em se tratando de um álbum de música popular brasileira. A sua actividade primária no jazz pressente-se, como é óbvio, mas encontramos aqui outra faceta sua. O seu som é limpo, escorreito, quente, por vezes entrando por fraseados que desmentem a simplicidade formal dos temas (regra geral, “covers”) e demonstram as elevadas capacidades técnicas deste músico. O mesmo se diga, também, de Goulart, dedilhador ágil e entusiasmante que não surge nestas faixas para apenas acompanhar o instrumento solista.