Joelle Léandre / Théo Ceccaldi: “Elastic” (Cipsela)
O duo contrabaixo-violino não é estranho a Joelle Léandre – registos seus com violinistas como Carlos “Zíngaro”, Jon Rose e India Cooke circulam por aí. Mas por mais que, no caso do primeiro, exista uma enorme cumplicidade (várias vezes Léandre disse em entrevista que vê o músico português como um irmão espiritual), a relação que a contrabaixista francesa tem com o jovem Théo Ceccaldi é diferente. E por diversos factores. Um é a diferença de idades, representando a dupla de “Elastic” a reunião de uma consagrada da improvisação com um valor em emergência, somando-se a circunstância de ela ter sido professora de Ceccaldi. Outro, não menos importante, é a particularidade de Léandre dialogar aqui com alguém que se revelou como um digno descendente da nobre linhagem do violino de jazz gaulês, aquela mesma que remonta a Stéphane Grapelli, continuou com Jean-Luc Ponty e Didier Lockwood e parecia ter ficado em Dominique Pifarély. Esta especial conexão pressente-se: Léandre e Ceccaldi divertem-se, e na sexta faixa deste CD ouvimo-los até a rirem-se.
As improvisações desenroladas (com um sétimo tema, escondido, a surgir no final do disco) perdem por algum excessivo respeito de Théo por Joelle, com ele claramente a procurar não sair ao caminho da sua parceira de gravação, e pela igualmente óbvia atitude da última em dar espaço ao seu pupilo. A consequência é não haver propriamente desafios mútuos ou debate de personalidades, numa abordagem musical, a da improvisação, que depende mais do conflito do que do compromisso. Tudo isso é, no entanto, compensado por algo de precioso, o prazer de duas pessoas que se conhecem bem, e que confiam uma na outra (Stef Gissels escreve isso mesmo nas notas de capa), em simplesmente criarem música juntas pelo mero gosto de o fazer, sem necessidade de provar seja o que for quanto a capacidades pessoais. Fazem-no descontraidamente, sem formalismos nem urgências, num encontro que poderia ter acontecido no final de um jantar de amigos. Significa tal uma audição apaziguadora e relaxante, o que também é bom… Eis mais um saboroso disco da lusitana Cipsela Records.