Alexandre Coelho Quartet: “Sunday” (Sintoma Records)
Num país onde durante muito, demasiado, tempo a designação “mainstream” era sinónimo de música mole e com pouca personalidade, reproduzindo passivamente modelos datados e exaustivamente repetidos, tem sido muito positivo descobrir uma nova geração de músicos de jazz a pegarem na tradição para a partir desta criarem projectos de uma convicção e uma energia de todo notáveis. Se a esse nível se destacou o Ricardo Toscano Quarteto, o certo é que outros agrupamentos vêm abraçando esta perspectiva “kick ass” que vai buscar ao be bop e ao hard bop os seus argumentos, embora estes sejam vestidos harmónica e melodicamente com as características dessa condição dificilmente explicável a que vamos chamando de portugalidade. Um dos mais convincentes é o portuense Alexandre Coelho Quartet e eis que, depois do debutante “Saturday”, saído o ano passado, está agora em circulação este “Sunday”, por sinal gravado durante as mesmas sessões de estúdio do primeiro disco. Pode tratar-se de música de fim-de-semana, com a descontracção anunciada pelos próprios títulos, mas o que se ouve é entusiasmante e tem um relevo bastante sério.
O compositor dos oito temas reunidos é o próprio baterista-líder, e se tal particularidade faz de imediato suspeitar que a música privilegia a vertente pulsativa, logo a audição das primeiras faixas o confirma: o ACQ não tem apenas um “groove” geral a sustentá-lo, tem “swing”. A combinação de Alexandre Coelho com o contrabaixista João Cação e o pianista Gonçalo Moreira é não só eficaz neste plano como brilhante. E depois há o sax alto de João Mortágua, para este opinador uma das melhores surpresas destes últimos anos. Inventivo a improvisar e poético na entrega das melodias, as suas abordagens têm a mais-valia de nos desconcertarem. O seu som e o seu estilo pessoais acrescentam sempre algo mais ao que está a acontecer, e fazem-no regra geral por subtis (ou nem tanto assim) contrastes. Os formatos são bop, sim, mas o saxofone inocula essa identidade com elementos que nos remetem para o cool da West Coast. É como se da lava irrompesse mel…