Ricardo Pinto / Frederic Cardoso / Paulo Costa: “Triedro” (RPM)
Com formação clássica e de jazz (estudou na ESMAE do Porto e foi discípulo de Abe Rábade), o pianista e compositor Ricardo Pinto é conhecido, sobretudo, pelo seu trabalho com os Pãodemónio, grupo eléctrico que explora os hibridismos entre jazz, rock, funk e hip-hop que definem alguma da música urbana dos nossos dias. Num registo mais jazzisticamente definido, apresentou-se em palco, igualmente, com Perico Sambeat, Carlos Barretto, Alexandre Frazão e André Sousa Machado. O que vem neste “Triedro” é bem diferente desses dois empreendimentos, como fica desde logo patente tanto pela instrumentação do seu trio com o clarinetista Frederic Cardoso e com o percussionista Paulo Costa como pela frase que, no “booklet” do disco, circunscreve o âmbito daquilo que se vai ouvir: «Música improvisada sobre estruturas livres ou pré-definidas.»
E o que se vai ouvir é música com diversos níveis de estruturação e espontaneidade, num jogo constante entre escrita e criação no momento, muito mais abstracta do que alguma coisa que Pinto tenha feito noutro contexto. A matriz referencial (e tanto em termos técnicos como estéticos) não está no jazz, mas na música erudita contemporânea, ainda que, como não podia deixar de ser, este idioma musical se faça sentir. O “drive”, o balanço, mesmo o carácter expositivo dos temas têm algo de jazz neles, digamos que mais por defeito do que por intenção. As situações de maior liberdade deste projecto realçam a uma nova luz as capacidades instrumentais de Ricardo Pinto e resulta num grande prazer ouvir os clarinetes soprano e baixo de Cardoso e a parafernália percussiva de Costa. Sem dúvida, um belo álbum.