Lina Nyberg Band: “Aerials – Space / Birds” (Hoob Records)
A cantora sueca Lina Nyberg esteve em Portugal há umas semanas, e nos concertos dessa passagem pelo nosso país apresentou temas do seu novo álbum, “Aerials”, a ser publicado ainda esta semana. Embora apresentado como uma continuação de “The Sirenades”, de 2014, no qual se fez acompanhar por uma “big band”, esta edição é substancialmente diferente, pois nela encontramos o grupo que forma com David Stackenas, Cecilia Persson, Josef Kallerdahl e Peter Danemo a fazer-se acompanhar, em algumas passagens, pelo Vinola String Quartet e pelo Cappella Catharinae Choir. Ou seja, em vez de um orquestralismo jazz o que sobressai é uma dimensão de câmara, mais leve e, tal como título anuncia, aérea, com referência aos pássaros e ao misterioso desaparecimento da aviadora Emila Earheart em 1937.
A música insere-se no domínio do jazz vocal “mainstream”, mas em se tratando de Nyberg, e da associação desta com alguém como Stackenas, guitarrista da área da música improvisada com propensões experimentais, o tratamento dado aos temas torna-se algo inesperado. Isso fica especialmente evidente no CD1, “Space”, todo ele dedicado à interpretação de “standards”, tendo como dado adquirido que a canção “Tico Tico”, dos brasileiros Aloyisio de Oliveira e Zequinha de Abreu, é também um clássico (a excepção é “Migration”, composição original primeiro abstracta e depois conotada com a música contemporânea). Aliás, a amplitude da visão musical deste projecto estabelece-se logo em “Tico Tico”, a terceira e textural faixa do disco. Mais adiante, em “Bye Bye Blackbird”, esse outro lado transparece, por exemplo, no trabalho do piano, que mais parece saído dos conceitos de preparação de John Cage. E não imaginam como surge “Nightbird”, de Al Cohn, numa atitude nada passiva quanto à criação de “covers”. No CD 2, “Birds”, a escrita é de Nyberg e cruza orientações estilísticas, se bem que pelo meio possamos ouvir “Like a Sick Eagle”, peça de um dos maiores compositores americanos da new music, Charles ives. Ou seja, está aqui um trabalho de referência daquela que é uma das mais fascinantes vocalistas jazz femininas do nosso tempo .