No Project Trio: “Vol. II” (FMR)
Os membros do No Project Trio são três exemplos de músicos indevidamente conotados com o “mainstream” do jazz que em várias ocasiões têm ido para bastante longe dessa caixa de arrumação. Mas… o que é o “mainstream”, afinal? Uma linha de produção que reproduz passivamente os modos de fazer do passado? É um jazz fácil e de pretensões comerciais? O que João Paulo Esteves da Silva, Nelson Cascais e João Lencastre realizaram ao longo dos seus percursos não se define nem de uma maneira nem de outra. Basta ouvir os discos a solo de Esteves da Silva ou os seus duos com Dennis González para o perceber. O trabalho de Cascais em nome próprio também não cabe aí, e muito menos o que apresentou com o seu Decateto. Um projecto como o Communion afasta Lencastre desse âmbito, e aquilo que tem desenvolvido com, por exemplo, Rodrigo Amado não condiz, de todo, com essa classificação. Em conjunto, sob o descomprometido selo No Project, é uma via de abertura e exploração que escolhem, cada peça consistindo numa improvisação sem determinações escritas.
Como o próprio título indica (“Vol. II”), esta é a continuação de um primeiro tomo que se propôs reavaliar o formato do trio de piano jazz. Mas se essa incursão pode ter sido tomada então como uma simples curiosidade, agora já não é possível fazê-lo. As interrogações que se colocam neste disco e as respostas que são dadas, mesmo quando inconclusivas, são para levar muito a sério. E precisamente porque a atitude não é a da criar “outra coisa” com os instrumentos em causa, o piano, c contrabaixo e a bateria, mas pegar no espólio técnico, sintáxico e expressivo desta fórmula para lhe retirar outras consequências. Nesse aspecto, o que aqui vem é uma delícia. Nada renega e é com isso que procura ir mais longe, sem tentar agradar a públicos estranhos às questões colocadas ou mesmo àquele para o qual certos padrões são sagrados. Que bom que é quando um disco nos obriga a pensar…