Spinifex: “Veiled” (Trytone)
Trytone
Depois da boa aceitação de “Hipsters Gone Ballistic” e da digressão, este ano, do ensemble extensivo (o quinteto mais uma série de convidados) Spinifex Maximus, eis que o outro grupo de Gonçalo Almeida volta a editar. O contrabaixista, baixista e compositor português, dos já nossos bem conhecidos Lama, Albatre e Tetterapadequ, tem neste contexto a boa companhia de alguns dos mais notáveis músicos do jazz da Holanda, designadamente Tobias Klein, Gijs Levelt, Jasper Stadhouders e Philipp Moser. No tema-título, surge também a cantora indiana Priya Purushotnaman. Estranho? Nem por isso: a frente de sopros tem algo das fanfarras da Índia e a escrita vai beber mesmo à tradição carnática. Isso quando não nos lembra a música turca.
O que ouvimos nas 10 peças reunidas assembla essas referências com muitas outras, entre elas algo que vem directamente da linhagem de Ornette Coleman, assim como heranças do punk e do metal. As faixas têm estrutura de canção e pendor “groovy”, mas combinam o rigor rítmico e melódico (pulsações e métricas implacáveis, bem como uníssonos e contrapontos de enorme efeito, parecendo que há mais do que um saxofonista e um trompetista envolvidos) com improvisações solísticas que chegam a ferver, de tão energéticas e imaginativas.
“Veiled” é um disco agitado, nervoso, híper-activo, mas contrariamente ao que Almeida faz com os Albatre – se bem que igualmente com um baixo eléctrico – não tem a mesma dimensão de furor. A agitação dos Spinifex é festiva, e não obstante todos os elementos exteriores que congrega este é um disco encharcado em jazz, o que quer dizer que tem “swing”, tem o tipo de fraseados instituído pelo bebop e reforçado pelo hard bop, tem o espírito de bloco, de colectivo, do free. Há momentos de acalmia, mas nunca surgem como uma resolução das tensões; trata-se, sim, do ponto de partida, do anúncio, de qualquer coisa que está prestes a explodir. Não uma bomba, mas fogo-de-artifício.
Uma última nota para destacar o magnífico trabalho desenvolvido por Klein e Levelt: a parelha saxofone alto / trompete há muito que não tinha tão entusiasmantes resultados como esta. Se os Spinifex valem como um todo, Tobias Klein e Gijs Levelt são um todo dentro de um todo.
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Veiled (Trytone)
Spinifex
Tobias Kein (saxofone alto); Gijs Levelt (trompete); Jasper Stadhouders (guitarra eléctrica); Gonçalo Almeida (baixo eléctrico); Philipp Moser (bateria)