Susana Santos Silva: “Impermanence” (Carimbo Porta-Jazz)
Não gostei particularmente do concerto de apresentação deste disco em Coimbra, aquando do festival Jazz ao Centro – referii isso mesmo aqui na jazz.pt. Reconheci a qualidade das ideias composicionais de Susana Santos SIlva, reveladoras de que está a apostar também na escrita, mas algo impediu que a música “passasse”. Agora que ouvi o disco compreendo porquê: havia um problema de performatividade, de apresentação em palco dessas mesmas ideias. O certo é que “Impermanence” é um grande disco. Um desses discos que nos enchem a alma, muito bem pensado e tocado, imaginativo, desafiante. Porque não correu bem a actuação? Só encontro um motivo: esta é uma música difícil, conceptual, que necessita de uma tradução cénica forte. Esse impacto faltou em Coimbra, mas está aqui bem plasmado.
Percebe-se que o modelo deste álbum está nas composições de Peter Evans para o seu octeto, mas as coordenadas da trompetista do Porto são outras. Vão do jazz elaborado da Blue Note no período áureo da editora a fórmulas da música livremente improvisada, combinando processos convencionais com alguma experimentação. Consigo, Santos Silva tem João Pedro Brandão (saxofone alto, flauta), Hugo Raro (piano), Torbjorn Zetterberg (contrabaixo) e Marcos Cavaleiro (bateria). No primeiro e no último temas, ouve-se ainda a electrónica de Maile Colbert. Trata-se, pois, de um quinteto, por duas vezes transformado em sexteto, mas parecem mais os intervenientes: a experiência orquestral da líder, membro da Orquestra Jazz de Matosinhos, tem óptimos resultados na forma como trabalha com os timbres, tirando o máximo proveito das suas combinações. Em termos de execução instrumental, é especialmente de assinalar a magnífica contribuição de Raro – temos pianista!