Jakob Bro: “Gefion” (ECM)
ECM
Ser guitarrista na ECM é carregar uma herança pesadíssima, pois a editora alemã foi a primeira a perceber as mudanças que a guitarra introduziu no jazz. Mudanças – entenda-se – no sentido da inovação e da criatividade, porque outras houve que mudaram sim, mas na direcção da indecência.
Metheny, Towner, Abercrombie, Frisell, Gismonti (e até Derek Bailey) reposicionaram a guitarra no jazz e abriram novas linguagens para o instrumento que Manfred Eicher, responsável pela “label”, soube identificar e promover. Hoje o posicionamento da empresa é diferente, mais interessada em manter a linguagem sonora que ajudou a definir, como quem cuida de um património; neste contexto, o casamento com Jakob Bro é de conveniência, pois parece uma forma de repegar na grandeza do passado para lhe tentar encontrar novos usos: património vivo.
O som do guitarrista dinamarquês funde o brilho melódico e tímbrico de Frisell com a acidez de Abercrombie. O músico começou a sua carreira discográfica em 2003 e chega a um dos Olimpos das gravações de jazz como líder (já tinha gravado com o grupo de Paul Motian o álbum “Garden of Eden”, em 2004, e depois, em 2009, “Dark Eyes”, com Tomasz Stanko), depois de 10 discos editados.
No processo de digestão e exploração de todas as inovações dos anos 1970 e 80 a que hoje assistimos nas mais diversas áreas criativas, ouvimos com prazer o regresso do baterista norueguês Jon Christensen que, a par de DeJohnette, foi o músico que assegurou as primeiras secções rítmicas da casa (Jarrett, Garbarek, Weber, Towner, Rava, Abercrombie, etc.) Reouvimos com prazer o seu som metálico, com um uso intensivo dos pratos cortados pelo bombo e percebemos que está agora mais aberto e abstracto do que em outros tempos.
No contrabaixo está o americano Thomas Morgan, que integra os diferentes grupos de Bro desde 2011; ouvimo-lo já no João Lencastre's Communion, numa das gravações de André Matos e em outros discos da ECM com Abercrombie e Taborn. Tem um som forte e seguro que se integra particularmente bem na planície musical concisa e simples do guitarrista e que mantém clara e nítida a estrutura melódica.
O disco soa magnificamente invernoso em sucessivas audições. Alegremente lento, é música para ir ver a chuva ao campo, com temas de uma beleza serena e contemplativa. Previsível no som, mas nem por isso menos interessante na música, ouvimos uma guitarra belíssima, com composições que resolvem com elegância e surpresa os lugares-comuns. As guitarras da ECM começam a regressar a casa.
Jakob Bro virá tocar ao Hot Clube, em Lisboa, dias 23 e 24 de Abril. Eu se fosse a vocês agendava…
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Gefion (ECM)
Jakob Bro
Jakob Bro (guitarras); Thomas Morgan (contrabaixo); Jon Christensen (bateria)