Paulo Chagas: “Saxophone Solos 2012-2014” (Darkpebble-Bluehave)
Não tenho ideia de alguma vez um saxofonista português ter gravado um disco a solo. Trata-se de um investimento particularmente difícil e o próprio formato exclui qualquer rede de segurança: só muito bons músicos se atrevem a fazê-lo. “Saxophone Solos 2012-2014”, de Paulo Chagas, será, pois, o primeiro com um músico português. E é notável. O disco integra registos que o soprador (toca igualmente oboé, flautas várias e clarinetes sopranino e baixo) foi fazendo em dois anos de trabalho no seu estúdio, centrando-se nos saxofones alto e soprano. O carácter das nove peças reunidas diversifica-se: umas são improvisadas espontaneamente, outras resultam da exploração de fórmulas técnicas específicas e outras ainda surgem como “leituras” directas de fotografias, filmes ou poemas.
O disco ouve-se como se espreitássemos alguém no seu espaço privado. É tão intimista quanto isso. O permanente jogo com o silêncio coloca-nos num ambiente de serenidade, mas tudo o que Chagas faz é como que a crua exposição de uma inquietude interior, seja quando há uma perspectiva esquemática (“One Geometric Figure”, “Another Geometric Figure”) ou quando o tocar ganha uma dimensão impressionista (“”Ants and Fleas”, “Where the Grass Turns Red”). Curiosamente, não parece haver aqui muito do expressionismo abstracto com que, por tradição, a música livremente improvisada e o jazz criativo se identificam. O que, provavelmente, seria a opção mais fácil. Assim como seria se estes temas fossem meros exercícios, não sendo esse igualmente o caso. O que ouvimos é outra coisa: uma dança com o som.