Gorilla Mask: “Bite My Blues” (Clean Feed)
Clean Feed
Descobrir novos caminhos para o punk através do jazz pode parecer um absurdo, mas na verdade é por aqui que podemos pegar neste disco. O “powertrio” de Peter Van Huffel tem a energia e a intensidade do punk rock e alarga-as através das improvisações do saxofone. Esta é uma banda capaz de dar um estalo na cara daqueles que esperam pela vida como quem espera pelo metro ou por um abaixamento de impostos.
Estão em campo duas ideias diferentes. Por um lado a repetição tribalista, surgida no rock com Bo Diddley, em que os instrumentos são percutidos e a guitarra é um tambor que acentua o ritmo, e por outro a enorme capacidade melódica que ouvimos nos Ramones. E enquanto a banda arrasa a sala com o seu poder rítmico, o saxofone navega naquela hecatombe em solos lindíssimos que nunca perdem a carga nem a espontaneidade.
Dave Wayne descreveu, no texto que acompanha o disco, o som de Huffel como «o tom cavernoso de Arthur Blythe com a euforia repetitiva de David S. Ware» e eu não consigo fazer melhor. Parece uma descrição científica. O disco do trio alemão foi gravado ao vivo em Toronto e capta com vividez toda a força e energia do grupo e a sua capacidade de improvisar.
A música deste trio de jazz faz muitos grupos de rock parecerem o Noddy: alarga o cérebro, empurra-nos para a frente. É fortíssima e muuuuuuito boa, mesmo quando adopta formas do jazz clássico (“Fast & Flurious”). A Alemanha gosta dos extremismos e neste caso ainda bem, pois este jazz cru, cheio de rock, suburbano, adolescente, prova que o destino destina mas nós também temos de fazer por isso. Não há caminhos, há que caminhar.
-
Bite My Blues (Clean Feed)
Gorilla Mask
Peter van Huffel (saxofone alto); Roland Fidezius (baixo eléctrico); Rudi Fischerlehner (bateria)