Jacob Young: “Forever Young” (ECM)
ECM
Eu gosto de melodias. Gosto de uma frase musical simpática, feita de coisas simples, combinadas de forma surpreendente. Gosto de ouvir músicos como Miles Davis tocar melodias e depois levá-las para lugares imprevistos, dobrá-las de forma admirável. Dito isto, fico com dificuldade em perceber a insistência da ECM no norueguês Jacob Young e em aceitar albergar a sua enorme vulgaridade.
A editora, relembro, abriu portas para músicas que então não eram sequer admitidas como jazz (Keith Jarrett, Enrico Rava, Terje Rypdal, etc.), mas raramente se aventurou em propostas demasiado abstractas que abdicassem da melodia e de ritmos regulares. E a primeira coisa que percebemos no guitarrista é que tem uma enorme vontade de ser harmonioso. Contudo, é difícil perceber o que é que Manfred Eicher ouve em Young, pois não lhe reconhecemos o mínimo de diferenciação ou particularidade.
Actua essencialmente como compositor e não é um guitarrista com particularidades assinaláveis (não fazendo jus à enorme tradição da “label” com Metheny, Rypdal, Abercrombie, Frisell, Towner, Gismonti, etc.). Os seus solos são de uma vulgaridade indizível, limitando-se a acentuar a frase melódica enquanto a desmultiplica em acelerações sobre escalas complexas, parecendo que está a praticar. A música procura o prazer melódico, sem nunca ser minimamente original: nunca sai de pé, ou melhor, nunca sai sequer da piscina dos pequenos: exageradamente simpática e fácil, sem nada que a distinga, deixa sempre uma sensação de “déjà-écouté”.
O grupo de Jacob Young usa frequentemente o uníssono para martelar ainda mais as frases na memória do ouvinte e os arranjos limitam-se ao óbvio. O híper-sensível som de saxofone leva-nos para territórios que pensávamos definitivamente arrumados nas prateleiras mais gordurosas do jazz. O piano e o contrabaixo ainda nos chamam a atenção, mas perdem-se na pasta sonora.
Ouvimos o disco com tédio e com dificuldade em manter o foco na música. O cérebro remete-a para cenário e foge para outras divagações. É com esforço que regressamos este mundo em que impera o bocejo. Surpreendente numa editora que nos habituou à excelência.
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“Forever Young” (ECM)
Jacob Young
Jacob Young (guitarra, guitarra eléctrica); Trygye Seim (saxofones tenor e soprano); Marcin Wasilewski (piano); Slawomir Kurkiewicz (contrabaixo); Michal Miskiewicz (bateria)