Nate Wooley: “Seven Storey Mountain III & IV” (Pleasure of the Text)
Pleasure of the Text
Sendo um dos mais urgentes trompetistas do nosso tempo, Nate Wooley tem desenvolvido um trabalho cada vez mais vasto. Através da “label” portuguesa Clean Feed editou a facção do seu trabalho em que a ligação ao jazz está mais presente, com composições estruturadas, muito especialmente com os seus quarteto, quinteto e sexteto. Mas o universo do trompetista é mais vasto e é sobretudo a solo que se compreende a dimensão de Wooley como excelente manipulador do trompete.
Detentor de uma técnica formidável, Wooley é capaz de gerar os sons mais imprevistos, desafiando quaisquer preconceitos. Sabe também trabalhar muito bem com a amplificação e o “feedback”, servindo-se destes elementos para moldar o som. Com Peter Evans, outro trompetista extraordinário que se tem afirmado ao longo deste século, mantém um magnífico duo.
“Seven Storey Mountain” é um projecto iniciado por Nate Wooley no ano de 2007, no âmbito do Festival of New Trumpet Music. Ainda que o título tenha sido inspirado na autobiografia do monge trapista Thomas Merton, este duplo álbum não representa um seguidismo religioso, e sim a rejeição de valores normativos em favor de aspirações espirituais. A pura técnica convencional dá lugar a sons mais esotéricos, a exuberância é trocada pela simplicidade.
O projecto contou com uma primeira edição discográfica em 2009, num disco editado pela Important Records, nessa gravação reunindo-se Wooley com o guitarrista David Grubbs (Gastr Del Sol, Red Krayola, etc.) e o baterista Paul Lytton. No segundo volume (novamente Important Records, em 2011) juntaram-se-lhe o percussionista Chris Corsano e o violinista C. Spencer Yeh.
Chegam agora, em conjunto, dois novos volumes, o terceiro e o quarto, numa edição da nova editora Pleasure of the Text Recordings – um projecto fundado pelo próprio Nate Wooley. Para a parte III, Wooley convocou - além dos já habituais parceiros David Grubbs, C. Spencer Yeh, Paul Lytton e Chris Corsano - dois vibrafonistas, Matt Moran e Chris Dingman. Na parte IV, Wooley faz-se acompanhar por um grupo mais alargado e, além dos colaboradores habituais, juntam-se os músicos do TILT Brass Sextet.
Ambos os registos foram efectuados ao vivo, no Issue Project Room, em Nova Iorque – o primeiro em Março de 2011, o segundo em Junho de 2013. A parte III, uma única faixa de 40 minutos, arranca com um “drone” tranquilo, a que se segue uma turbulência free, relativamente controlada, numa amálgama instrumental crescente.
No segundo disco (parte IV) temos novamente uma única faixa, desta vez de 50 minutos. A música arranca novamente de forma contida, para depois evoluir, transformando-se num turbilhão sonoro. Lá pelo meio (a partir do minuto 18) destaca-se o papel da percussão, com a presença constante de uma campainha, que vai marcando estranhamente o tempo de forma regular e quase hipnoticamente. Depois avança-se para outros ambientes, passando por uma fase de verdadeira convulsão sónica.
Apesar de todas as diferenças, a música em ambos os discos parte dos mesmos princípios: um arranque tranquilo, concentrado, o desenvolvimento estruturado, a evolução do colectivo. E um abandono do papel individual em favor da massa sonora global. Com o mesmo abandono com que um monge se entrega a Deus.
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Seven Storey Mountain III & IV (Pleasure of the Text)
Nate Wooley
Seven Storey Mountain III: Nate Wooley (trompete, amplificador); David Grubbs (guitarra); C. Spencer Yeh (violino); Matt Moran, Chris Dingman (vibrafones); Chris Corsano, Paul Lytton (baterias)
Seven Storey Mountain IV: Nate Wooley (trompete, amplificador); Spencer Yeh (violino); Ben Vida (electrónica); Matt Moran, Chris Dingman (vibrafones); Chris Corsano, Ryan Sawyer (baterias) + TILT Brass Sextet: Chris McIntyre (trombone, direcção); Gareth Flowers, Tim Leopold, Chris Dimeglio (trompetes); Jen Baker, Will Lang (trombones)