Trisonte: “Monster’s Lullaby” (Sintoma Records)
Sintoma Records
O próprio nome deste trio prefigura o que se vai ouvir: música pesada. Uma música que parte do jazz e a ele regressa, mas que pelo caminho absorve os contributos do rock e, até, da chamada “club music” – o que se verifica, uma vez ou outra, pela incorporação de padrões rítmicos próximos, por exemplo, do drum ‘n’ bass. Neste particular, o que distingue “Monster’s Lullaby” de outras incursões de fusão é a abordagem feita tanto ao jazz como ao rock. Ora, o jazz que aqui se ouve é o mais solto e espontâneo saído do free, e o rock tem evidente matriz na estética punk “arty” definida pela no wave de Nova Iorque.
Com um formato invulgar que dispensa a intervenção de um baixo, Ricardo Barriga, Gonçalo Prazeres e Luís Candeias baseiam os enquadramentos composicionais em “riffs” e as improvisações surgem como o desfiar das implicações existentes, sem que aconteçam grandes desvios – o que, se permite que as tramas cresçam, de uma forma muito focada, também tornam os desfechos algo previsíveis. Não há verdadeiramente rasgos que surpreendam o ouvinte e nunca se sai das zonas de conforto estabelecidas.
Ainda assim, o grupo sabe fugir ao óbvio. O mais certo quando se pega numa fórmula como esta é o desembocar em explosões expressivas com muita distorção e “feedback” de guitarra, mas as preferências vão para os tempos médios e lentos. Este “trisonte” é pesado, e como tal desloca-se devagar. A opção permite-nos observar melhor o que vai acontecendo, incorporando-nos no seu movimento, em vez de nos deixar esmagados pelo poder sonoro e irremediavelmente de fora.
A proposta é, sem dúvida, muitíssimo interessante, mas sente-se que ainda tem um caminho a andar. Promete bastante, mas falta-lhe por enquanto desenvoltura, certeza e risco. Fico curioso relativamente ao passo seguinte: as sementes estão aqui, todas elas. Uma última palavra para o óptimo “design” da embalagem, concebido ao estilo “indie”. Venha mais.
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Monster’s Lullaby (Sintoma Records)
Trisonte
Ricardo Barriga (guitarra eléctrica); Gonçalo Prazeres (saxofones alto e barítono); Luís Candeias (bateria)