Bruno Santos: “Caixa de Música” (Ed. de autor / Fundação GDA)
Edição de Autor / GDA
Até 2013, a discografia em nome próprio de Bruno Santos era relativamente escassa. Porém, neste ano, o guitarrista madeirense vê editados, com diferença de poucos meses, dois discos que consolidam a sua posição entre os mais relevantes guitarristas de jazz nacionais. Um primeiro com o seu Ensemble (decateto) e agora – reduzindo o efetivo para metade – com um quinteto, que se avoluma pontualmente para sexteto.
A formação base que o líder escolheu para a gravação do seu projeto “Caixa de Música” completa-se com outros nomes de créditos mais do que firmados no panorama do jazz que se faz em Portugal: o trompetista João Moreira, o vibrafonista Jeffery Davis, o contrabaixista Nelson Cascais e o baterista André Sousa Machado. Como convidado especial em três das composições surge o saxofonista norte-americano John Ellis.
Percebe-se, desde logo pelas notas de capa, que todos estes músicos foram decisivos para que as várias peças fossem ganhando a forma que aqui se dá a conhecer. Escutando “Caixa de Música” ressalta evidente que permanecem inalteradas na essência as características fundamentais da escrita a que Bruno Santos nos tem habituado ao longo do seu percurso – nos seus próprios discos ou quando compõe e arranja para outras formações, como o Septeto do Hot Clube de Portugal –, independentemente do formato em que tal matriz se operacionalize.
Como guitarrista, a sua linguagem sóbria e reservada, avessa a pirotecnias, na esteira das principais luminárias do idioma jazzístico vertido para as seis cordas, fornece resistentes teias harmónicas em íntima relação com uma secção rítmica bastante experiente.
As composições que integram o programa são tematicamente variadas, predominando as de pendor cálido, que exibem as principais qualidades de Bruno Santos enquanto compositor: coerência, maturidade e elegância, aproveitando sabiamente, dir-se-ia à maneira “ellingtoniana”, os talentos que o rodeiam.
Santos enceta de modo tranquilo “Contrabaixo Não Há Argumentos” – logo a abrir, a melhor peça do disco –, dando o mote para o diálogo entre trompete e vibrafone, associação que, aliás, é central em vários momentos. Jeffery Davis derrama aqui – tal como o faz amiúde – todo o seu consequente virtuosismo e musicalidade, marcando de forma decisiva a sonoridade global da formação.
Salte-se já para outro dos píncaros da jornada, “Caparica”, com o trompete noturno de Moreira bem acolitado por John Ellis, em saxofone tenor. A melodia amena de “Ja” é bem explorada nas excelentes intervenções solistas de Ellis (aqui em soprano) e do guitarrista.
A esquivar-se à toada geral, “Spam” mostra o trompetista a aplicar ao instrumento os já habituais efeitos, que se aliam ao vibrafone com resultados positivos. Da placidez da peça título avulta o excelente solo de Nelson Cascais, enquanto em “Tudo É Possível Menos...” encontramos de novo Moreira e Davis em conversa animada.
O disco encerra com o mais enérgico “O Lobo Solitário”, ou não fosse a peça dedicada a um popular ícone do cinema de ação dos anos 80 do século passado: Chuck Norris. Santos alia eletricidade ao trompete efervescente de Moreira e o resultado agrada. Do ponto de vista discográfico – dos seus méritos enquanto instrumentista e compositor há muito estávamos conversados – este é o ano da consagração definitiva para Bruno Santos.
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Caixa de Música (Edição de Autor / GDA)
Bruno Santos
Bruno Santos (guitarra eléctrica, composição); João Moreira (trompete, efeitos); Jeffery Davis (vibrafone); Nelson Cascais (contrabaixo); André Sousa Machado (bateria) + John Ellis (saxofones tenor e soprano)