Mary Halvorson Septet: “Illusionary Sea” (Firehouse 12)
Firehouse 12
Este “Illusionary Sea” só será lançado em Setembro próximo, mas antes disso o Mary Halvorson Quintet passará por Lisboa, para uma participação no Jazz em Agosto. Motivo de força maior para que a jazz.pt já tenha ouvido o disco, uma antecipação que muito agradecemos à guitarrista e à editora Firehouse 12: o que nele vem é o que certamente se vai ouvir – com as diferenças introduzidas pelo facto de haver menos dois músicos e pela vertente “live”, bem entendido – nos jardins da Fundação Calouste Gulbenkian.
Este novo Septet não é mais do que uma extensão do Mary Halvorson Quintet tal como o conhecemos em “Bending Bridges” (2012) e “Saturn Sings” (2010). A conselho de Anthony Braxton, mestre de Halvorson e seu líder no Falling River Music Quartet (que também se apresentará no festival da Avenida de Berna), dois instrumentistas foram acrescentados ao normal alinhamento, a saxofonista Ingrid Laubrock e o trombonista Jacob Garchik. Com a medida, a escrita da nova-iorquina ganha uma dimensão para-orquestral que já parecia indiciada num ou noutro momento da sua anterior produção (designadamente, naqueles que indicavam uma projecção “quintet plus”, sendo que, regra geral, aqueles discos evidenciavam a lógica organizacional Mary Halvorson Trio mais dois).
O que quer dizer que, neste título, há uma maior presença composicional de Halvorson, se bem que esta não eclipse a executante de guitarra. Para todos os efeitos, a singularidade da já incontornável figura do novo jazz continua a dever-se mais às suas práticas guitarrísticas do que ao estatuto de compositora. Neste domínio, e a não ser o facto de escrever para um maior número de vozes e combinações, a receita mantém-se: cruzamentos da tradição do jazz com soluções “avant” e, aqui ou ali, introdução de elementos provenientes do rock. O amadurecimento é perceptível, tanto na forma como na aplicação, mas neste particular não se encontram grandes brilhantismos.
Ficam, assim, as cintilações que vão surgindo para o trabalho instrumental dos envolvidos, todos eles exímios executantes – para além de Halvorson, Laubrock e Garchik tocam Jonathan Finlayson, Jon Irabagon, John Hébert e Ches Smith, nomes que logo à partida são uma garantia de competência e criatividade.
Última nota para referir que, em contraste com o habitual em se tratando de quem é, este CD termina com uma “cover” de um tema de Robert Wyatt, “Nairam”, surgido no álbum “Shleep”, que por sua vez se inspirou numa peça de Philip Catherine. Por isso mesmo, a inclusão tem um significado especial, consistindo na homenagem de Mary Halvorson ao ex-Soft Machine.
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Illusionary Sea (Firehouse 12)
Mary Halvorson Septet
Mary Halvorson (guitarra eléctrica); Jon Irabagon (saxofone alto); Ingrid Laubrock (saxofone tenor); Jonathan Finlayson (trompete); Jacob Garchik (trombone); John Hébert (contrabaixo); Ches Smith (bateria)