Wind Trio: “Old School, New School, No School” (Creative Sources)
Creative Sources
A forma como Paulo Chagas, Paulo Curado e João Pedro Viegas utilizam a família das palhetas (saxofones, clarinetes, flautas e oboé) neste álbum, o primeiro, do seu Wind Trio faz-me pensar em coisas que ouvi a Julius Hemphill, Arthur Blythe ou até Henry Threadgill, particularmente no que respeita ao trabalho com os timbres e com os cruzamentos frásicos. Nesse aspecto, não há dúvida de que têm algo da “old school”, e isso no melhor dos sentidos (o termo ganhou uma conotação pejorativa, vá lá saber-se porquê).
Acontece, porém, que recorrem amiúdes vezes a técnicas extensivas, o que os aproxima da chamada “new school” da improvisação – e da improvisação jazzística em particular, sendo mais do que evidente a filiação idiomática neste género musical, o que não acontece habitualmente no catálogo da Creative Sources. Este é, por regra, mais radical nas suas lógicas editoriais, posicionando-se muito para além do alcance do jazz.
Aliás, está patente que há algum tipo de estruturação previamente definida nestas curtas peças, tal como acontece no jazz propriamente dito. Essa combinação de vertentes, ou de “escolas”, coloca-os na tal “no school” aludida pelo título. Mas atenção… Não se trata de uma “no school” movida pela ambição de abrir novos caminhos, dado que o trio lida com materiais reconhecíveis, mesmo quando soam “extensivos”. O que se encontra neste CD é uma postura de equidistância relativamente às tendências instaladas. Sem recusar estas, os três portugueses escapam ao fechamento pressuposto pelos seus parâmetros.
Resulta uma música fresca, imaginativa e inconformada, embora sem verdadeiras surpresas. É, sobretudo, uma música muito bem tocada, num exemplo particularmente feliz da superior qualidade do jazz e da improvisação nacionais. E como se não bastasse, manifesta um sentido de grupo, de colectivo, de entrosamento e partilha que não é propriamente comum à escala mundial.
Refira-se para finalizar que, no contexto do nosso jazz e da nossa música improvisada, caracterizados por um preguiçoso despojamento programático (são raras as excepções), o Wind Trio e este CD surgem contra a corrente: têm um conceito. Um conceito definido, sustentado e, mais importante ainda, aplicado com eficácia. Sem separação de termos: o conceito é a prática, a prática é o conceito. Bravo!
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Old School, New School, No School (Creative Sources)
Wind Trio
Paulo Chagas (oboé, clarinete sopranino, flauta, flautas de êmbolo); Paulo Curado (saxofones alto e soprano, flauta); João Pedro Viegas (clarinetes soprano e baixo)