Um sonho antigo
A Associação de Jazz da Madeira – Melro Preto foi formalmente constituída no dia 3 de fevereiro de 2021 (celebra hoje o seu segundo aniversário!) e desde então tem dinamizado diversas iniciativas na Ilha da Madeira, entre concertos, jam sessions e workshops. Esta associação tem na sua génese um reconhecido músico da cena jazz nacional, o saxofonista Francisco Andrade, que tem exibido a sua elevada qualidade técnica em diferentes projetos e de quem esperamos ouvir música original. Estivemos à conversa com Andrade, fundador da associação e presidente da direção, que nos falou sobre a história, propósitos e planos de vôo da Melro Preto.
Como nasceu a associação Melro Preto?
A Associação de Jazz da Madeira – Melro Preto (AJMMP) nasceu a partir de um sonho antigo de pessoas ligadas ao jazz na Madeira. Em 2019, Francisco Andrade e Alexandre Andrade começaram a projetar a AJMMP, pensando na equipa e membros fundadores. Feito o esboço dos seus estatutos, por Francisco Andrade, a 16 de outubro de 2020, fez-se a primeira reunião informal para leitura e reflexão dos estatutos pelos membros fundadores. No dia 3 de fevereiro de 2021 foi formalmente constituída a associação com os membros fundadores Francisco Andrade, Alexandre Andrade e Filipe Freitas, em conformidade com os estatutos que deram entrada no Cartório Notarial de Santana para serem revistos e uniformizados pela Dra. Raquel Abreu. Aos 11 dias do mês de fevereiro, reuniu-se em sessão extraordinária a 1.ª Assembleia Geral da AJMMP onde se elegeram e tomaram posse os órgãos socias constituídos pela Assembleia Geral, Direção e Conselho Fiscal.
Quais os objetivos e missão da associação?
A Associação de Jazz da Madeira – Melro Preto (AJMMP) tem como objeto social: promover e divulgar a música jazz na Ilha da Madeira; defender os interesses da comunidade jazzística na Madeira; melhorar as infraestruturas associadas à música jazz na Madeira; promover projetos e espetáculos relacionados com o jazz; promover o jazz madeirense fora da Madeira; apoiar e dinamizar a formação de jazz para jovens (masterclasses, workshops, etc.); auxiliar e proteger as iniciativas dos associados, pessoas singulares ou coletivas que, subordinando-se aos estatutos e regulamentos internos, tendam a desenvolver as finalidades da associação.
Para já têm promovido concertos em diferentes espaços (MAMMA, Centro de Congressos). Que outros projetos e iniciativas têm planeado?
Existem muitos projetos pendentes para este ano de 2023, desde logo continuar a promover os concertos em parceria com o Museu de Arte Moderna da Madeira (MAMMA). Neste espaço, a AJMMP apenas dá apoio à programação mensal do MAMMA Jazz Club, que acontece todas as quintas-feiras. A ideia é desafiar os músicos para tocarem e fazerem concertos em formato de tributo. Tudo começou com o desafio de Rui Sá (dono do espaço) de tocarmos o disco “Kind of Blue” do Miles no dia 17 de março de 2022. A partir de aí o jazz tem acontecido todas as semanas naquele que é neste momento um dos palcos mais importantes da atividade artística regional. Outro dos grandes projetos desta associação é a realização das jams sessions semanais no Museu Café, no Largo no Município, todas as sextas-feiras. Este foi o nosso primeiro desafio a nível da programação. No ano passado até agosto tínhamos de convidar formações e músicos para abrir a jam session, esta temporada que iniciou em setembro, tem um novo formato, um músico convidado que tem carta branca para organizar as jams sessions durante um mês. Tem corrido muito bem até agora! Esta situação só é possível pelo apoio logístico e financeiro do Fábio Remesso e os seus parceiros que nos garantem todas as sextas-feiras as melhores condições para fazermos a música que mais gostamos, o jazz. A par destes concertos também promovemos os concertos da Orquestra de Jazz do Funchal (OJF), que é representada pelo Melro Preto. Estes concertos têm acontecido no Centro de Congressos (no Dia Internacional do Jazz), no Centro Cívico do Estreito de Câmara de Lobos, na Casa das Mudas (Calheta) e em co-produções com o Funchal Jazz, Teatro Municipal Baltazar Dias e Assembleia Legislativa da Madeira. Todos estas produções só são possíveis graças ao apoio incondicional da Secretaria Regional de Turismo e Cultura da Madeira e Câmara Municipal do Funchal.
Para já os vossos concertos têm passado sobretudo por homenagear figuras históricas do jazz. Planeiam desenvolver projetos com música original?
Sim. Este ano esperamos criar um selo/editora Melro Preto. O objetivo é criar um catálogo de música jazz de autores madeirenses para que a sua música também possa ser ouvida além-fronteiras. Pretendemos angariar apoios para serem canalizados para este objetivo, apoiando financeiramente a edição e produção da música que está “na gaveta” dos músicos sócios que fazem parte desta associação. Existe muita música original e músicos criativos tanto na área do jazz mais tradicional, como também do jazz mais contemporâneo ou da música improvisada. Chegou-se à conclusão, através de um pequeno inquérito, que existem alguns músicos com música original pendente e que só não avançaram para edição por questões financeiras. Dai ser de extrema importância conseguirmos os apoios pedidos para podermos ajudar a concretização efetiva da música original.
Tendo a Madeira uma tradição musical específica, têm planos de abordar alguma ligação do jazz com a tradição musical madeirense?
A música tradicional madeirense está completamente enraizada e disseminada na Madeira muito graças ao trabalho no terreno do Rui Camacho, que de forma metódica e persistente foi construíndo, catalogando e preservando a história da música tradicional madeirense, com a Associação Xarabanda que conta já com 40 anos de existência. A ligação do jazz com a música tradicional já esta a ser feita de forma eximia pelo guitarrista madeirense André Santos, com o seu projeto MUTRAMA e com o irmão Bruno Santos (Mano a Mano), dando novas roupagens e interpretações às canções da terra. Também já existe uma colaboração entre os grupos Xarabanda e Madeira Jazz Collective para a reinterpretação de canções tradicionais e vesti-las com roupagens jazzísticas, que culminou num concerto ainda durante a crise pandémica e que aguarda edição discográfica. Ou seja, é uma ideia que já esta a ser desenvolvida pelos músicos madeirenses da área do jazz há algum tempo e que inevitavelmente continuará a ser desenvolvida pelos mesmos ou por outros músicos que tenham interesse em explorar e reinventar com cores mais arrojadas a música tradicional madeirense.
Têm previstas parcerias com outros promotores do jazz na Madeira, como por exemplo o Funchal Jazz?
Ela já existe na verdade. Em 2022, concretizou-se com a participação no palco principal do festival do concerto da Orquestra de Jazz do Funchal com o Mário Laginha, além de estarmos presentes com um stand de venda e divulgação do Melro Preto. E espera-se que a parceria continue por muitos e bons anos. Agradecemos ao Paulo Barbosa por acarinhar de imediato e disponibilizar os meios para que a nossa associação estivesse presente na edição de 2022 do festival.
Além do Funchal, têm previsto promover concertos noutros locais, eventualmente até no Porto Santo?
Sim. Este é um dos grandes objetivos da nossa associação, descentralização da música jazz, levando-a até os 12 municípios da Região Autónoma da Madeira. Temos um projeto pendente que se chama “Club de Jazz Itinerante – Melro Preto”, ainda não se conseguiu criar as condições para o colocar em prática. O projeto educativo “Dá-lhe Jazz” também já foi a alguns pontos de Ilha divulgar o jazz em algumas escolas e na comunidade educativa. Entretanto, estrearemos no segundo dia de comemoração do 2.º aniversário, o Melro Preto Jazz Club @Paroquia. Este espaço, situado na vila da Ponta do Sol, será a partir do dia 4 de fevereiro também dedicado ao jazz, na zona oeste da Ilha. Só é possível graças ao convite do Nuno Barcelos e da administração da Estalagem da Ponta do Sol, que concederam à associação a curadoria do restaurante/bar A Paróquia. Isto vai possibilitar a população daquela zona ter acesso, de forma gratuita, a concertos que acontecerão todos os sábados, com músicos madeirenses e algumas surpresas que irão sendo divulgadas mensalmente. Aos poucos vamos conquistando espaços, públicos e músicos em diferentes pontos da Ilha.
Têm previstas parcerias para colaborações com músicos do continente?
Sim. Já houve colaborações com Ricardo Toscano (saxofone), que deu uma masterclass, e já tivemos concertos da OJF com Zé Eduardo (contrabaixo) e com Mário Laginha (piano). E gostaríamos de trazer até à Madeira muitos outros, de forma a conciliarmos as componentes de formação e programação.
Que outras ideias, planos e ambições tem a associação?
Existem muitas ideias, planos e ambições, mas todas elas têm de ser bem ponderadas de forma a não prejudicar a vida da associação. O fundamental é sobretudo continuar a construir o futuro de forma sólida e consistente, criar diferentes situações e condições para os músicos de jazz madeirenses. Existe uma grande vaga de jovens que gostam desta música de forma genuína e nós somos muito importantes no sentido de criar condições artísticas e profissionais para o futuro desta e de outras gerações de músicos. Para já os planos são continuar a programar as jam sessions no Museu Café e deste novo espaço na Ponta do Sol e realizar um “Jazz Camp” em abril, trazendo músicos madeirenses “embarcados” para que eles também contribuam com as suas experiências e música para o crescimento da comunidade. A maior ambição neste momento é ter uma sede física e espaço para a realização da nossa programação e atividades que ambicionamos desenvolver com os músicos, melómanos e entusiastas madeirenses. Se souberem de algum espaço com condições para acolher esta associação digam-nos por favor!