Aquele abraço
Gileno Santana é um extraordinário trompetista, que nasceu no Brasil e mudou-se para Portugal aos 18 anos. Integrou a Orquestra Jazz de Matosinhos e começou por se fazer notar com o álbum “Metamorphosis” e com a sua parceria com o músico brasileiro Tuniko Goulart, com quem gravou o disco "Inevitável". O trompetista embarcou recentemente num novo projeto, a direção artística da Orquestra Jazz do Centro (OJC). A orquestra, que começa a dar os primeiros passos, tem o objetivo de abraçar os músicos da zona centro que saem dos conservatórios e das escolas superiores. A OJC estreou-se ao vivo em dezembro do ano passado e vai agora ter a sua segunda atuação, no dia 12 de março, no Centro Cultural de Carregal do Sal, com o tema "A Era do Swing". Numa pequena entrevista, o diretor artístico fala-nos sobre este novo projeto.
Como nasceu a sua ligação à Orquestra Jazz do Centro?
Nasceu de um convite do diretor executivo da orquestra, Pedro Carvalho, que me fez o desafio. Trabalhar com um projeto como este já era um sonho antigo.
O Gileno é um músico com experiência muito vasta, diversas parcerias e colaborações. Na qualidade de diretor artístico, o que pretende dar à OJC?
Pôr toda a minha experiência musical e humana. Depois destes anos todos, a trabalhar com diversos projetos e formações, chegou o momento de colocar tudo isso em prática. Está a ser uma experiência maravilhosa.
Tiveram uma primeira atuação em dezembro, com o cantor FF como convidado. Como correu essa primeira experiência?
Correu da melhor forma, conheci pessoalmente o FF num trabalho que fizemos e não hesitei em fazer-lhe o convite. Temos planos de muito em breve repetir esse concerto, que ficou na retina de todo o público e esgotou o Centro Cultural de Tábua.
Pode apresentar-nos quem são os músicos da OJC?
A orquestra tem uma formação clássica. Cinco saxofones, a começar pelo lead alto, Bruno Rodrigues, Paulo Salgado, no lead tenor Alexandre Madeira e João Rola, no barítono temos a Dulcineia Guerra e Beatriz Martins no clarinete. Nos trombones temos o lead trombone Afonso Quelhas, Cyril Lopes, Pedro Santos e João Mário no trombone baixo. Nos trompetes estou eu (a fazer o lead trompete) e comigo estão Edgar Carvalho, João Alves e David Borges. Na sessão rítmica temos na bateria Flávio Martins, no contrabaixo Jané Mendes e no piano Rodrigo Rama. Saliento que todos estes músicos são da zona centro do país.
Têm previstas parcerias e colaborações com outros músicos?
Temos sim, nacionais e internacionais. O meu maior objetivo, com a OJC, é construir algo que esteja perto da nossa cultura portuguesa. Nos nossos próximos projetos temos algo inédito, com a junção da guitarra portuguesa da guitarrista Marta Pereira, e em outro projeto termos o percussionista macaense João Caetano. Em ambos os projetos iremos explorar a sonoridade da música tradicional portuguesa. Em outubro iremos ter o nosso primeiro convidado internacional, o trompetista Thomas Gansch.
O segundo concerto da OJC, no próximo dia 12 de março, terá como título "A Era do Swing". O que se poderá esperar desta atuação?
Temos em carteira diversos projetos e esse sem dúvida não poderia faltar, no nosso leque de opções, pois esta é a razão deste tipo de formação. As big bands têm um papel importantíssimo na história do jazz, queremos preservar isto.
Quais as temáticas previstas para as próximas atuações?
Irá passar muito pela música portuguesa, compositores portugueses, tradicionais e contemporâneos. Não tenho muito interesse em popularizar a orquestra, no sentido de fazer muitas colaborações com cantores, se essa escolha for feita será muito pontual e cirúrgica.
Têm ideias para a gravação de um disco? Vão trabalhar música original?
Temos um single pronto a sair e estamos a estudar a proposta de resgatar o primeiro registo das composições do Carlos Azevedo, um compositor que me agrada muito.
O Gileno integrou a Orquestra Jazz de Matosinhos, é agora diretor artístico da OJC. Da sua posição privilegiada, como vê o atual panorama das orquestras jazz em Portugal?
Isto é ótimo, agora já há muitas orquestras, todas elas com ótima qualidade o que engrandece o nível dos músicos nacionais. As orquestras, para além de darem trabalho aos músicos, no caso da OJC, também tem um conceito pedagógico fazendo a ligação da Escola de Música e Artes de Tábua para a orquestra. Com a quantidade de músicos que saem todos os anos das escolas superiores e dos conservatórios, as orquestras são um refúgio para abraçar a qualidade desta nova geração.