João Lencastre, 12 de Outubro de 2021

Emoções fortes

texto António Branco fotografia Teresa Q, João Hasselberg e José Fernandes

“Unlimited Dreams” é o novo capítulo do notável percurso criativo do baterista e compositor João Lencastre e do seu projeto mais emblemático, Communion. Em formato de octeto, o “ensemble” assume uma configuração instrumental inusitada, com dois saxofones, duas guitarras elétricas, piano, baixo elétrico, contrabaixo e bateria, mais eletrónicas, aprofundando um lado menos conhecido da abordagem do músico lisboeta.

Desde que, no início da adolescência, se dedicou à bateria, João Lencastre deixou a sua marca em projetos cobrindo um amplo leque de géneros musicais, do heavy metal ao reggae, passando pelo rock alternativo e pelo afrobeat. A partir de 2001 focou-se de modo quase exclusivo no jazz, demonstrando a versatilidade da sua práxis baterística. O rol de músicos com quem já tocou impressiona, tanto em quantidade como em qualidade. Os primeiros contactos com o jazz aconteceram aos 16 anos, aquando da sua passagem pela Escola de Jazz do Hot Clube de Portugal, onde foi aluno de Bruno Pedroso, um dos principais responsáveis pela abertura de horizontes para esta música. As temporadas que mais tarde passou nos Estados Unidos permitiram-lhe não apenas ter aulas com nomes como Ralph Peterson Jr. e Billy Kilson, como também estabelecer uma rede de contactos que o ajudaram a alimentar as sucessivas formações que foi criando de ambos os lados do Atlântico. Até ao presente dia.

Os Communion começaram a germinar em 2005, quando Lencastre organizou uma digressão em Portugal para a qual convidou músicos como Phil Grenadier, Leo Genovese, Demian Cabaud e André Matos, e têm vindo a metamorfosear-se desde então, adquirindo diferentes formatos e integrando múltiplos intervenientes. O primeiro álbum, “One!”, foi editado em 2007 pela catalã Fresh Sound New Talent de Jordi Pujol. Seguiram-se outros títulos indispensáveis, “Sound it Out” (TOAP, 2010), “B-Sides” (Fresh Sound, 2008), “What Is This All About?” (Auand, 2014), “Movements in Freedom” (Clean Feed, 2017) e “Song(s) of Hope” (Clean Feed, 2019), os dois últimos gravados com o pianista Jacob Sacks e o contrabaixista Eivind Opsvik. O Communion 3 prepara-se, neste outubro, para regressar aos concertos, desta feita com Genovese ao piano e, pela primeira vez, Drew Gress no contrabaixo, oportunidade para escutar música nova concebida tendo estes músicos em mente.

O novo disco segue-se, cronologicamente, a “No Gravity”, editado em 2020, no qual o escutamos ao lado do pianista Rodrigo Pinheiro e do contrabaixista João Hasselberg num jazz de matriz eletroacústica em que são exploradas diferentes ambiências sonoras. Outras das mais interessantes vertentes do seu trabalho explanam-se no indefinível grupo Parallel Realities, com Albert Cirera nos saxofones tenor e alto, Pedro Branco na guitarra e os já mencionados Pinheiro ao piano e Hasselberg no contrabaixo, no baixo elétrico e na eletrónica (o disco homónimo, de 2019, na britânica FMR, é altamente recomendável). Co-lidera ainda o No Project Trio, com o pianista João Paulo Esteves da Silva e o contrabaixista Nelson Cascais – parado, no momento, esperando-se que possa ser reativado num futuro próximo –, e integra o NAU Quartet, liderado pelo seu irmão, o saxofonista José Lencastre, e um trio com o saxofonista Rodrigo Amado e o contrabaixista Hernâni Faustino. Participou também nos dois álbuns da dupla João Hasselberg & Pedro Branco, “Dancing Our Way To Death” (edição de autor, 2016) e “From Order To Chaos" (Clean Feed, 2017). Fora do jazz avulta a sua longeva colaboração com Tiago Bettencourt & Mantha.

Na cabeça tem muitos sonhos. Alguns tornar-se-ão realidade. A propósito de tudo isto, e mais, João Lencastre falou com a jazz.pt.

 

“Unlimited Dreams” é o mais recente tomo daquele que será o teu projeto mais emblemático, Communion. Como o enquadras no cômputo da discografia anterior desta formação multiforme?

Acho que cada disco representa as diferentes fases de um artista. A maneira como sinto a música e como ela fica retratada tem variado ao longo dos anos, e embora este disco seja talvez o que mostra mais o meu “eu” musical, e é, sem dúvidam aquele em que maior destaque dei à composição, no fundo é apenas mais um capítulo desta longa caminhada, e que retrata a forma como ouvi e senti a música num determinado período. Acho que isso acontece com quase todos os artistas. Se olharmos, por exemplo, para a carreira de Miles [Davis], é incrível a quantidade de fases por que passou e a quantidade de vezes que acrescentou algo de novo à música... e sempre de uma forma genuína e nada forçada, que é para mim o mais importante e que tento sempre respeitar.

 

“One!” foi editado há quase década e meia. Muita coisa aconteceu entretanto...

É verdade! Como o tempo passa... Sinto que amadureci muito, não só como baterista, mas essencialmente como compositor. Na altura em que “One!” foi editado, estava eu a começar a escrever as primeiras ideias. Entretanto, mais nove discos se passaram (não só com os Communion mas também com Parallel Realities e No Gravity) e centenas de concertos com alguns dos meus músicos favoritos, em sítios onde nunca imaginei vir a tocar. Olhando para trás, posso dizer que me sinto realizado com o que alcancei até agora, e isso dá-me motivação para continuar.

 

A configuração instrumental, em octeto (Communion 8), será um dos principais aspetos distintivos do novo álbum. Quais os principais desafios que enfrentaste para escrever música para este formato?

O primeiro desafio foi fazer arranjos para tantas vozes, que até então nunca tinha tido a oportunidade de realizar, e de tentar criar contrastes entre as mesmas. Tive também de ter um cuidado especial para não haver choques entre as diferentes melodias e timbres. Por exemplo, há momentos em que o contrabaixo e o baixo elétrico tocam ao mesmo tempo, e é preciso encontrar o espaço certo para não chocarem nem se anularem um ao outro. O mesmo com as guitarras, etc.

 

O que procuraste explorar aqui que não encontras num efetivo mais reduzido, trio ou mesmo sexteto?

Maior variedade de contrastes e dinâmicas, que são dois dos elementos que mais me fascinam na música. E o facto de ser um octeto permitiu também criar uma grande massa sonora, que era um fator importante para dar vida a estas composições da forma que inicialmente imaginei.

 

O próprio xadrez tímbrico – dois saxofones, duas guitarras elétricas, piano, baixo elétrico, contrabaixo e bateria, mais eletrónicas – não é habitual, mas emerge como decisivo para operacionalizar as tuas ideias, que sabemos não se limitarem a perímetros pré-definidos...

Durante o processo de composição costumo ir imaginando qual é a instrumentação que faz mais sentido para transmitir a sonoridade que tenho em mente, e isso acabou por levar à escolha desta formação menos convencional. Mas a escolha da formação teve também muito a ver com os músicos. Senti que, para dar vida a estas composições, tinham de ser estes os músicos. Todos eles têm uma personalidade musical muito forte e uma grande facilidade em se adaptarem a cada momento. Conseguem facilmente perceber o espaço e a direção de cada composição, e têm também uma grande abertura para deixar a música fluir e surpreender em cada “take”.

 

A formação que agregaste é um verdadeiro “all-stars”, com músicos de personalidades vincadas, líderes dos seus próprios grupos e com obra reconhecida. Fala-nos do processo de gestação deste álbum...

Tenho uma forte ligação musical e pessoal com todos eles e tocamos juntos já há vários anos. Com André Fernandes e com Nelson Cascais, por exemplo, tocámos pela primeira vez em 2004... Com Benny Lackner em 2007. Com [Albert] Cirera, [Ricardo] Toscano, [Pedro] Branco e [João] Hasselberg já há pelo menos 10 anos. E com todos eles em diversos contextos. O facto de todos eles terem uma personalidade vincada é uma das qualidades que mais aprecio num músico.

 

Presumo que lhes tenhas concedido importante espaço de manobra para que aportassem contributos próprios...

Sim, claro! Mas quando chamo algum músico para um projeto não procuro apenas alguém competente, procuro alguém que toque a sua personalidade através do seu instrumento e que venha acrescentar alguma coisa à música. Há normalmente coisas escritas e que têm de ser tocadas de certa maneira, mas até aí há a forma como as interpretas e a expressividade que dás a cada nota. No que diz respeito à parte da improvisação, o que eu quero sempre é ser surpreendido e “desafiado”. O não saber o que vai acontecer apura a tua capacidade de reação, que faz com que, quando todos os músicos estão nessa sintonia, se consiga criar algo novo e verdadeiramente genuíno.

 

Para a tua pena confluem elementos de múltiplos quadrantes musicais, da imprevisibilidade do jazz à energia do rock, passando por um paisagismo sonoro com traços da música erudita contemporânea e mesmo por um certo apelo pop. Como procuras equilibrar todas estas influências díspares sem perder coerência? É algo que surge naturalmente?

Acho que isso se deve ao facto de toda a vida ter ouvido todo o tipo de música. Não só ouvir, mas também absorver as diferentes linguagens. E por isso, quer seja a tocar ou a compor, essas influências acabam por aparecer naturalmente. Não costumo pensar em géneros musicais, mas apenas em música, e neste caso a música que eu sinto e tento transmitir.

 

Interessa-me sobremaneira o modo como processas essas referências e como, ao mesmo tempo, te tentas libertar delas para a formulação de algo próprio, num desejo de liberdade na música, sem rótulos castradores. É este o propósito?

Vejo a música como um veículo para expressar emoções, e cada um tem uma história diferente para contar. As influências, não só da música, mas de outros tipos de arte ou de qualquer vivência, servem para ajudar a criar a nossa própria história e não para serem copiadas.

 

Ressalta o modo muito particular como geres o delicado equilíbrio entre composições estruturadas e improvisações. Os modos de composição pré-determinada e em tempo real complementam-se de forma especial...

Com as composições, apesar de haver sempre espaço para a criatividade e a personalidade de cada um, há já uma estrutura pré-definida e uma direção. Já a improvisação livre vejo como composição em tempo real. Tentar contar uma história como se de uma peça escrita se tratasse.

 

Como salientaste, a tua escrita faz-se muito de jogos de contrastes, intensidades e dinâmicas. Aquilo que acontece num dado instante, pode ser subvertido no seguinte...

Sim, como já referi, para mim um dos elementos mais importantes na música são os contrastes. Adoro quando ouço um disco ou quando vou ver um concerto ao vivo, e ouvir coisas super minimais vs. “caos total”, contrastes dinâmicos super dramáticos, o “bonito” vs. “feio”, etc. E procuro sempre integrar esses elementos não só nas minhas composições, mas também quando improviso livremente.

 

Uma das peças de que mais gostei é “The Mystery Path”, com o encadear de atmosferas distintas, que não deixa os sentidos em sossego...

Também é uma das que mais gosto! A primeira melodia foi o que deu o mote ao tema. As restantes ideias foram surgindo naturalmente. É assim que surgem grande parte das minhas composições. Descubro uma ideia inicial e toco-a vezes sem conta até encontrar o caminho.

 

Também destaco o caleidoscópio sonoro de “Insomnia”, com a sua veia rock contaminada por outros sons...

O nome desse tema é literalmente porque um dia acordei a meio da noite e não conseguia voltar a dormir. Resolvi ir para o teclado tocar um bocado, e as primeiras notas que toquei, sem pensar, foram o que viria a ser a linha de baixo do início do tema... Nos dias seguintes escrevi as diferentes melodias e os acordes.

 

Para além, naturalmente, da tua liderança, qual será o denominador comum de todas as encarnações dos Communion? Há uma visão integradora, um conceito base?

São todos músicos com quem me identifico musicalmente e com quem tenho também uma boa relação a nível pessoal. E quando tocamos, sinto que há uma grande confiança entre todos, uma recetividade e uma aceitação nas escolhas de cada um, que permite a música fluir naturalmente para qualquer direção...

 

Ainda assim, sentes-te particularmente confortável em algum contexto especial ou procuras deliberadamente escapar a tal conforto?

Gosto de tocar todo o tipo de música, desde que me dê emoções fortes. Preciso de sentir para poder dar de volta o que a música precisa.

Tudo música

 

Vamos voltar um pouco atrás no tempo. Provéns de uma família musical ou tudo se deu por tua conta e risco?

Não há grande tradição musical na minha família, tirando a minha avó, que tocava um pouco de piano. E em minha casa sempre se ouviu muita música.

 

Lembro-me de ter lido que optaste pela bateria depois de teres visto um vídeo de Lars Ulrich dos Metallica a tocar “One”. O rock foi a tua porta de entrada na música?

Sim, sem dúvida. Cresci a ouvir The Doors, Jimi Hendrix, The Who, Cream, Queen, Dire Straits, entre outros. E quando tinha aí os meus 12, 13 anos foi quando descobri os Metallica, Guns N´ Roses, Nirvana, Slayer...

 

Os teus primeiros contactos com o jazz aconteceram na Escola do Hot Clube de Portugal. O que começaste por ouvir?

O primeiro disco de jazz que ouvi foi uma coletânea de John Coltrane, mas na altura não me chamou muito a atenção e fui à procura de outras coisas com as quais me identificasse mais. O meu professor na altura, Bruno Pedroso, mostrou-me vários discos mais na onda da fusão, desde Chick Corea com Dave Weckl, John Scofield com Dennis Chambers, Alan Holdsworth com Vinnie Collaiutta. Fui descobrindo também vários discos da ECM, e alguns deles ainda hoje em dia oiço bastante, como por exemplo o “November”, de John Abercrombie, e o “StAR”, com Jan Garbarek, Miroslav Vitous e Peter Erskine. Depois, também através da Modern Drummer, revista que assino desde então, descobri muita música nova, e dentro do jazz levou-me a conhecer discos de Kenny Garrett e Joshua Redman com Brian Blade, de Bill Frisell com Joey Baron, de Joe Lovano e John Scofield com Bill Stewart, entre vários outros... O primeiro disco de jazz “a sério” que ouvi vezes sem conta acho que foi o trio de Chick Corea, “Live in Europe”, com Roy Haynes e Miroslav Vitous, que me despertou um maior interesse pela tradição e por aprender tudo sobre história do jazz, e me levou à descoberta das discografias de Art Blakey, Joe Henderson, Thelonious Monk, Sonny Rollins, Wayne Shorter, Duke Ellington, Count Basie, Billie Holiday, John Coltrane, Max Roach, Bill Evans, Art Tatum, Charles Mingus, entre muitos outros... Também nessa altura, lembro-me que da primeira vez que ouvi o “Bitches Brew” fiquei em choque! Nunca tinha ouvido nada assim... Esse disco teve um grande impacto em mim, que me levou a pesquisar e a conhecer a discografia completa de Miles Davis.

 

O trompete alguma vez foi hipótese como instrumento para a vida?

Não, mas é um instrumento que adoro. Tive aulas com Tomás Pimentel durante um ano na escola do Hot Clube, mas é um instrumento muito ingrato... Se deixas de tocar dois ou três dias, especialmente numa fase inicial, perde-se logo o som e a embocadura. E isso acontecia muitas vezes em semanas que tinha mais concertos, o que acabava por ser um pouco desmotivador.

 

Pelo que já disseste e pela extensa lista de músicos com quem tens tocado, concluo que o teu modo de entender a música não tem fronteiras. A flexibilidade e a capacidade de adaptação a vários contextos é uma marca central da tua abordagem enquanto músico...

O que procuro sempre que toco é ouvir e reagir, não ter ideias pré-definidas, nem pensar em estilos musicais, mas apenas sentir e reagir ao momento. Sinto que essa é a melhor maneira de sermos nós próprios e de expressarmos verdadeiramente a nossa identidade.

 

Nesta floresta de referências, quais são as árvores que mais te marcam?

Miles Davis é talvez o músico que mais impacto teve em mim, pela forma como constantemente inovou e acrescentou algo de novo à música. Mas há dezenas de outros que me marcaram muito também e continuam a marcar, como são os casos de John Coltrane, Tony Williams, Paul Motian, Wayne Shorter, Keith Jarrett, Herbie Nichols, Herbie Hancock, Art Blakey, Billie Holiday, Charlie Haden, Jack DeJohnnette, Ornette Coleman, Ed Blackwell, John Scofield, Dewey Redman, Elvin Jones, Ahmad Jamal, Gene Krupa, Baby Dodds, Max Roach, Dave Holland, Dave Lombardo, Deen Castronovo, Brian Blade, Bill Stewart, Joey Baron, Billy Kilson, Jeff Watts, The Beatles, The Doors, The Who, Dead Kennedys, Jeff Buckley, Elliot Smith, Queen, Led Zeppelin, Joni Mitchell, Cream, Slayer, Nirvana, Metallica, Death, Jimi Hendrix, Primus, Bob Marley, Tony Allen, Sly & The Family Stone, Chopin, Bach, Beethoven, Benjamin Britten, Charles Ives, entre muitos outros... Uma coisa que todos têm em comum é a expressividade, a emoção, que dão a cada nota, a que é impossível de ficar indiferente.

 

Mesmo no perímetro (consideravelmente elástico) do jazz e das músicas improvisadas, tens tocado com músicos mais ligados à “tradição” e outros que perscrutam territórios menos garimpados. E sempre desempenhando um papel invariavelmente de absoluta centralidade...

Para mim, a essência do jazz é a improvisação, o “tocar a sala”, o “tocar o momento”, e embora possa haver linguagens e abordagens diferentes, esses elementos estão sempre presentes, e fazem parte da forma como toco, independentemente de ser num contexto “mainstream” ou num contexto mais livre ou “avant-garde”.

 

O teu projeto Parallel Realities navega em águas diferentes dos Communion, mas, mesmo assim, parecem-me existir traços comuns. O nome aludirá a essas “realidades paralelas”, que coexistem e interagem...

O Parallel Realities é essencialmente de improvisação livre. O nome tem a ver com o conceito que pensei para esse grupo, que foi o de cada músico explorar um universo musical diferente de acordo com uma palavra dada antes de cada “take”. Com os Communion é diferente, há muitas partes escritas, sabemos qual o ponto de partida e o ponto de chegada, e embora possa haver partes de total liberdade há sempre um “guião” para cada tema.

 

O formato de trio, ainda que com diferente instrumentação, tem sido uma constante no teu itinerário. O que mais te atrai nesta geometria?

O trio é o formato que para mim possui o número perfeito de combinações (um trio, três duos, três solos), que dá mais liberdade sem ficarmos demasiados “expostos”, e que permite mais facilmente encontrarmos o nosso espaço. Mas gosto de todo o tipo de formações, e o que acaba por ter maior importância é sempre com quem estás a tocar.

 

Por falar em trio, em que pé está o No Project Trio, com João Paulo Esteves da Silva e Nelson Cascais?

Já não tocamos há muito tempo... Mas ainda no outro dia falámos em voltar a tocar e a gravar. Há uma grande química entre os três e gostava muito de tocar com este grupo novamente muito em breve.

 

E o trio com Rodrigo Amado e Hernâni Faustino?

Outro grupo com o qual também sinto uma grande ligação... Entretanto, o Rodrigo, nos últimos anos, tem preferido o formato de quarteto, com Rodrigo Pinheiro ou com Ricardo Toscano, e que também funciona muito bem. Sem dúvida, quer seja em trio ou quarteto, merece ser gravado.

 

Como encaras este paulatino aproximar de universos musicais (mesmo dentro do jazz, numa aceção lata) artificialmente separados ao longo de tanto tempo, com diversos projetos interessantíssimos a acontecer?

Acho que é o que faz sentido. No fundo é tudo música, que é o que mais interessa. Se a junção de músicos com “backgrounds” diferentes funciona porquê ignorar isso?

 

Parte significativa do teu percurso faz-se com nomes de proa da cena nova-iorquina (David Binney, Bill Carrothers, Thomas Morgan, Jacob Sacks, Leo Genovese...). Para além de Benny Lackner, que toca no disco novo, manténs vivos estes contactos?

Sim, vou falando com todos eles, mas a logística de atravessar o oceano para podermos tocar nem sempre é fácil. O Benny agora mora em Berlim, o que torna a coisa mais fácil. Nos últimos anos tenho conseguido tocar com o trio com Jacob Sacks e Eivind Opsvik, tanto em Portugal como em Nova Iorque, e agora em outubro vou ao Seixal Jazz e à Casa da Música com Leo Genovese e Drew Gress. Escrevi alguma música nova a pensar neles e estou muito entusiasmado com esses concertos.

 

Também de relevo é a relação com o teu irmão José Lencastre, designadamente no NAU Quartet. Como caracterizas essa tua relação musical com ele?

Temos uma ligação muito próxima. Passamos a vida a partilhar música, fazemos às vezes umas sessões caseiras em duo e aprendemos muito um com o outro. Em relação aos NAU, é um grupo com que adoro tocar! Há sempre um grande ambiente entre todos e a música flui naturalmente sem ser preciso fazer qualquer esforço para a magia acontecer.

 

Depois de “Unlimited Dreams” que sonhos se seguirão?

Gostava muito de ter a oportunidade de apresentar o disco ao vivo em 2022. E comecei recentemente um projeto que toca essencialmente a música de Ornette Coleman, Herbie Nichols e Thelonious Monk. Gostava de rodá-lo bastante durante o próximo ano e depois, eventualmente, gravar. Conta com a participação de Ricardo Toscano, Pedro Branco, João Bernardo, que é um excelente pianista, mas que neste projeto explora apenas os sintetizadores, Nelson Cascais e João Pereira. Há muito que queria fazer um projeto com duas baterias, e o João é um dos bateristas do panorama nacional que mais gosto de ouvir tocar. Achei que era uma boa ideia convidá-lo. Por fim, vou continuar a explorar a cena eletrónica, e gostava de poder dar a conhecer ao mundo qualquer coisa muito em breve... Por agora posso apenas adiantar que é bastante diferente de tudo o que alguma vez fiz até agora.

 

Para saber mais

https://www.joaolencastre.com/

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