Luís Figueiredo, 8 de Novembro de 2017

A ideia do tempo

texto Nuno Catarino fotografia Márcia Lessa

O pianista e compositor Luís Figueiredo começou por se afirmar na cena jazz nacional com a edição de dois discos de originais: “Manhã” (2010) e “Lado B” (2012). Com o contrabaixista João Hasselberg trabalha o duo Songbird, fazendo revisões instrumentais de canções populares, e colabora com os cantores Nuno Dias (“Canções Pagãs”), Sofia Vitória e Cristina Branco. Tem desenvolvido um sólido trabalho como produtor e arranjador e foi responsável por discos de Luísa Sobral e Ana Bacalhau. É dele o arranjo da canção “Amar pelos Dois”, o emotivo tema que venceu a Eurovisão. Agora está focado na sua própria música e prepara-se para editar “Kronos / Penélope”, um ambicioso álbum duplo em que apresenta composições originais ao leme de um grupo alargado. Numa conversa sem pressas, o pianista de Coimbra fala sobre o seu percurso, o novo disco, os arranjos que tem feito e a Eurovisão.

 

Como é que começaste a tocar? E como é que chegaste ao jazz?

Comecei a estudar piano aos 8 anos numa escola particular. Depois fiz o curso do conservatório, com crescente desagrado. No final do conservatório estava tão desmoralizado que fiquei na dúvida se devia dar seguimento… Isto aconteceu numa altura em que tinha entrado em Direito, na Universidade de Coimbra, e acabei por perceber que aquilo não tinha nada que ver comigo. Parei tudo, foquei-me na música, estive um ano a ter aulas para me preparar para entrar num curso superior e entrei. Fiz o curso na Universidade de Aveiro, no clássico. Eu sempre tive aquela coisa de escrever música e durante esse período em Aveiro comecei a escrever. Havia uma coisa que sempre quis fazer, que era estudar jazz, estudar com alguém do meio jazz. O último ano da licenciatura em Aveiro foi meio louco: estava a acabar a licenciatura, dava aulas no conservatório em Coimbra e estava também na escola do Hot! Acabei por andar no Hot apenas durante uns oito meses, porque era muito duro, mas fiz algumas ligações importantes.

Tive aulas com Filipe Melo e foi uma amizade que ficou. Foi uma pessoa que me ensinou a ética do jazz. Como somos quase da mesma idade, nunca tivemos uma relação professor-aluno e o Filipe sempre foi supergeneroso comigo. Fui também aluno de Bernardo Moreira, de Ricardo Pinheiro, de Bruno Santos… Nesses anos antes de ir para o Hot eu era um “stalker” de Mário Laginha, seguia-o para todo o lado! Queria tocar coisas dele, pedia-lhe partituras e acho que ele me achava piada. Por isso ou porque já estava farto de mim, a certa altura ofereceu-me o manuscrito original da primeira Fuga que ele escreveu. Comecei a estudar com ele, eram aulas pontuais, de cinco em cinco meses. Pouco depois fui convidado para fazer um doutoramento e o Laginha acabou por ser o co-orientador. Fiz o doutoramento em Aveiro, e demorei dez anos para acabar!

 

Quando foi o momento em que começaste a ouvir jazz?

Tenho dois irmãos e o mais velho também é pianista e estudou jazz no Porto. Esse foi o meu contacto com o jazz e aconteceu quando eu tinha uns 11/12 anos. Ele trazia cassetes que eu ouvia em casa. A primeira coisa do universo do jazz de que eu me lembro de ouvir foi Bill Evans. Não sei que disco era, provavelmente era uma antologia. Lembro-me de ouvir aquilo e de achar que era uma confusão, não conseguia perceber. Pouco tempo mais tarde o meu irmão andava vidrado na cena afro-cubana e passava o tempo a ouvir Michel Camilo. Na altura eu achava aquilo impressionante, mas se reconheço que hoje, ritmicamente, há coisas daquilo que ficaram cá no fundo, não é música que eu ouça. Fiz o percurso formal da música erudita, mas era sobretudo jazz aquilo que ouvia.

 

Em 2010 editaste o teu primeiro disco, “Manhã”, gravado em trio. Dois anos depois, “Lado B” já tinha um grupo diferente. Que ideias marcaram estes dois primeiros álbuns?

O primeiro disco era marcado por uma certa maneira de escrever música, muito ligada à música dos pianistas portugueses, Mário Laginha, João Paulo Esteves da Silva, Bernardo Sassetti… Depois mudei a agulha: queria fazer outra coisa, até timbricamente. Acrescentei o Fender Rhodes, pensei num quarteto com o trompete de João Moreira. Tinha um espectro de possibilidades e um som particular e comecei a explorar isso, à medida que as coisas foram surgindo. Na minha cabeça tudo existe em paralelo, a qualquer altura posso ressuscitar o trio, para mim todos estes projectos existem uns ao lado dos outros, não são sequenciais.

 

Além de “Lado B”, em 2012 também editaste um disco em duo com a cantora Sofia Vitória...

O duo aconteceu mais ou menos ao mesmo tempo do “Lado B” e começou quando ela me contactou para escrever um tema. Esses dois projectos andaram a par e o trio acabou por repousar. Nessa altura, com a Sofia, gravámos o disco de temas de Chico Buarque [“Palavra de Mulher”], que acabou por ter uma vida porreira. 

Exercício de despojamento

 

Um outro projecto em que estás envolvido é o Songbird, duo com João Hasselberg que faz reinterpretações de canções conhecidas. Tens uma relação particular com a canção…

Tenho uma relação muito próxima com canções de vários universos. O relacionamento com João Hasselberg surgiu porque ambos tocávamos com Luísa Sobral. Foi aí que nos conhecemos e no fim dos ensaios de som começávamos a tocar algumas canções. Às vezes eram “standards”, outras vezes vinham de outros universos… Um dia falámos, em tom de brincadeira, que devíamos gravar um disco de baladas. E depois acabou por acontecer.

Antes disso, ele chamou-me para tocar nos discos dele e isso foi uma coisa que adorei fazer, achei que era a minha praia. Havia uma parte de mim que estava à vontade para explorar, que é uma coisa rara de acontecer quando és “sideman”. Pelo caminho gravámos o primeiro volume de Songbird. Os concertos sempre me deram um gozo bestial, as pessoas davam um “feedback” muito positivo e reconheciam os temas. É uma música óptima para se pôr baixinho ao jantar, não incomoda muito. É um projecto que conceptualmente me agrada porque é um exercício de despojamento, não é importante se há um grande solo, interessa é fazer justiça à canção. Evitamos fazer grandes arranjos, apenas queremos tocar a canção. Por vezes faz sentido fazermos um solo, outras vezes não. Às vezes fazemos um solo ao vivo, outras vezes não fazemos. E como o universo das canções não tem fim, contabilizando as músicas dos discos mais aquelas que já tocámos ao vivo, já são cerca de 60 canções! Ambos estamos a fazer as nossas coisas, mas às vezes ouvimos uma canção e fica na calha…

 

Tens colaborado em projectos fora do jazz, por exemplo com Cristina Branco. O que tens ganho com essas colaborações?

Posso dizer que para mim não há sacrifício. Tenho uma vida em projectos mais comerciais, mas de forma geral tudo isso faz sentido, exercito-me a encontrar outro tipo de soluções. Não me incomoda tocar música que passa na rádio, que as pessoas ouvem de forma massiva, que tem viabilidade comercial (a maioria da música que eu crio tem uma viabilidade comercial muito reduzida). Com Cristina Branco tenho um projecto que considero o meu “dayjob”. É uma música que para mim faz sentido: não tenho de fazer grandes cedências e as condições de performance são óptimas. 

 

Qual é a tua relação com o fado?

O fado nunca foi uma referência para mim. A Cristina é a única fadista (se bem que ela própria não se considere fadista) que eu ouvia ou com quem sentia alguma afinidade. Nunca tive atracção pelo fado, mas agora começo a ter algum contacto e descubro subtilezas a que acho piada. Para mim era uma coisa desinteressante, mas fui-me apercebendo de algumas coisas, de uma certa maneira de tocar, de sentir as coisas, uma certa maneira de te relacionares com o tempo… Aprendi com o doutoramento que o elemento que mais facilmente define os diferentes domínios musicais é a relação que se tem com o tempo. A maneira como te relacionas com o tempo quando estás a tocar Debussy é uma, quando tocas “swing” é outra, quando tocas “avant-garde” é outra, quando tocas pop é outra… Voltas àquela teoria básica de que é tudo tempo, é tudo ritmo.

 

Tens outro projecto ligado à música portuguesa, as “Canções Pagãs”. Como nasceu esse projecto?

Nasceu de uma encomenda. Nuno Dias, o cantor e mentor do projecto, foi meu colega da licenciatura. Ele estava inicialmente ligado ao repertório da guitarra portuguesa e cheguei a fazer algumas coisas com ele. Entretanto passaram alguns anos, retomámos o contacto e ele convidou-me. Ele achava que o repertório de Luiz Goes, que é um nome maior da canção de Coimbra, devia ir para além do cenário da capa e batina, achava que aquelas canções têm mais substância do que a imagem que passava para as pessoas. Ele enveredou pela carreira de cantor lírico – é cantor do São Carlos – e compara as canções do Goes aos “lieder” europeus do século XIX e XX. O Nuno deu a ideia de fazermos uma recriação do repertório do Goes mas com novos arranjos que explorassem as potencialidades dessas canções. Aquela coisa de voz e piano, sobretudo de alemães mas não só, tem pérolas incríveis. Fiz arranjos para 15 ou 16 canções e agora temos a ideia de fazer uma versão 2.0, que é uma nova selecção de temas para gravar um disco com voz, piano e orquestra de cordas. 

Um dia memorável

 

Também tens um lado de produtor e arranjador e fizeste o arranjo para o tema “Amar pelos Dois”, a canção que ganhou a Eurovisão interpretada por Salvador Sobral. Como é que te envolveste em todo esse processo?

Aquilo partiu de uma ideia de Luísa Sobral. Disse-me que tinha uma canção e ia participar no Festival da Canção e perguntou-me se podia fazer o arranjo. Havia duas canções em cima da mesa, ela estava muito inclinada para esta e eu, quando ouvi as duas, disse-lhe que achava esta claramente mais forte. Disse-lhe «bora lá, porreiro, mas tens noção que não vamos passar da primeira fase»... Estava assente desde o começo que iria ter piano, voz e cordas, ninguém ia votar naquilo... Ela disse: «Claro, mas só quero fazer uma canção porreira.» Senti que ela estava alinhada, não tínhamos nenhuma ambição, queríamos apenas fazer uma canção bem feita. Fiz o arranjo e gravámos. Foi à primeira semifinal e começou a disparar, a disparar... A parada começou a subir. Pensei que na final fosse abalroado por algum “hit” que ficasse na orelha... E ele ganhou! Foi no dia 13 de Maio, no dia em que o Papa esteve em Portugal, o Benfica foi tetracampeão e ganhámos a Eurovisão! Eu estava em Ponte de Lima a tocar com Cristina Branco e António Zambujo também estava lá, acho que ia tocar no dia seguinte. A “road manager” estava na lateral do palco a receber actualizações dos resultados da final. Quando saímos ela disse-nos que já tínhamos ganho o voto do júri e só faltava o voto do público... E nisto entra a banda toda do Zambujo, o Benfica tinha acabado de ser campeão e foi uma grande comemoração! Foi um dia memorável.

 

Como é que uma canção tão clássica e sóbria ganha a Eurovisão?

A minha versão é que aquilo é um contexto em que há sempre um fenómeno. Ou é o fenómeno da mulher barbuda ou dos metaleiros da Finlândia, há sempre algum fenómeno. Começa a surgir qualquer coisa, a malta é atraída por aquilo e começa a avolumar-se. E este ano aconteceu com o gajo que se está a borrifar para aquilo, o gajo que não tem nada que ver com aquele contexto, a malta que não fez aquilo para ganhar. Foi o fenómeno do “underdog”. Houve uma série de entrevistas e uma pergunta que me fizeram muitas vezes era se aquilo representava uma mudança de paradigma, se as pessoas agora querem ouvir outra coisa... Eu digo que não, as pessoas continuam a querer a mesma coisa, foi apenas um fenómeno. Mas ainda bem que existiu, serviu para pôr algumas coisas em perspectiva, para relembrar às pessoas que ainda é possível fazer música de uma certa maneira, de que há ainda uma certa ideia de honestidade na arte... Por mais que tenha sido levado à exaustão e enfiado pela garganta das pessoas abaixo, não deixa de ser verdade e isso é uma mensagem porreira para passar: ajuda a validar aquilo que fazemos no dia-a-dia, que é a música que nós fazemos e que ninguém vai ouvir além daqueles 40 gajos que vão ao Hot Clube. Por outro lado, mostra ao público da música mais comercial que há outras coisas a acontecer, que a música que há para ouvir não tem necessariamente de ser aquela que passa na rádio e que alguém escolheu por ti. Tu tens o poder de ir à procura, de pesquisar coisas... Eu diria que não mudou absolutamente nada, mas foi importante ter acontecido.

 

Vais agora editar um álbum novo, chamado “Kronos / Penélope”, que é um disco duplo. O que é que traz?

Este álbum inclui música que comecei a escrever desde que saiu o “Lado B” até ao início deste ano. A principal razão para ser duplo é que tinha muito material. Quando comecei a seleccionar temas para gravar percebi que havia ali um fio condutor, pelo menos inconsciente, que era a ideia do tempo. Com facetas muito diferentes, mas sempre à volta do tempo: a espera, a memória, a passagem do tempo... A ideia original era dar-lhe simplesmente o título de “Kronos”, mas depois veio o “Penélope”, que é um nome incrível. Como ficaram dois discos, em conversa com a Camila [Beirão dos Reis, agente da Unique Booking], tivemos a ideia de usar dois títulos, um para cada disco. São dois discos diferentes, mas têm ligações entre eles, ideias que surgem num e continuam depois no outro, “reprises” de um no outro, com formações diferentes... Vai ser um álbum conceptual, à antiga, e o tempo está no centro dessa ideia. São quase todos temas originais, com a excepção de um de Bill Frisell e de uma adaptação que fiz de um estudo de Chopin, que transformei numa canção.

 

Qual é a formação-base deste disco?

Não há uma formação base. É uma lista extensa de músicos, porque queria fazer configurações muito diferentes, desde solo até septeto e octeto... Há temas que são em trio convencional de piano, contrabaixo e bateria; há coisas que são em quarteto com dois cantores, piano e violoncelo; há coisas em septeto, com piano, contrabaixo, bateria, trompete, saxofone, trombone e voz; há coisas em piano solo. Há coisas completamente “free improv”, há coisas completamente escritas... É um disco difícil de descrever.

 

Quem são os músicos que participam no disco?

Há dois contrabaixistas, Mário Franco e João Hasselberg, e há dois bateristas, Bruno Pedroso e Marcos Cavaleiro. Depois há João Moreira no trompete, Desidério Lázaro nos saxofones tenor e soprano, André Conde no trombone, Nuno Cunha na trompa, Rita Maria e João Neves nas vozes, Ajda Zupančič no violoncelo, Mário Delgado na guitarra. E eu toquei piano, Fender Rhodes, Wurlitzer, programação de “drum machine”, algumas percussões. Manuel Wiborg diz um poema. 

Erasing Monk

 

Este disco tem mais alguma novidade?

O disco inclui referências literárias e vai ter um “booklet” gigante, fartei-me de escrever sobre os temas. Hoje em dia, tendo em conta que a música acaba por estar acessível mais cedo ou mais tarde, quem compra um álbum físico precisa de ter alguma coisa extra. Se cobras 10 ou 15 euros por um disco, é bom que seja um objecto interessante, que tenha conteúdo. Então decidi explicar de onde vêm todos os temas, a quem são dedicados, quais são as referências específicas, se tem que ver com o filme tal, se tem que ver com aquele músico...

 

Este é um projecto muito ambicioso. É o que mais reflecte a tua personalidade?

Sem dúvida nenhuma, este projecto é uma maluqueira. Logisticamente, é quase impossível. Houve uma altura em que senti que tinha perdido o controlo, que tinha criado um monstro. Mas é também um projecto apaixonante e felizmente consegui concretizá-lo.

 

Em que outros projectos tens estado envolvido?

Uma coisa que me dá cada vez mais gozo fazer é produção e arranjos para outros músicos. Gosto da função de produtor-arranjador, aquele tipo que gosta de meter as mãos na massa, pensar «isto aqui poderia ter cordas, poderia ter sopros», pensar em arranjos, e ultimamente tenho feito muito isso. Fiz agora um disco de Ana Bacalhau, fiz um disco de Luísa Sobral e fiz um disco de Sofia Vitória à volta da poesia inglesa de Fernando Pessoa chamado “Echoes”... E também dou aulas na Universidade de Aveiro na área do jazz.

 

Quais são os teus planos para os próximos tempos?

Há algumas coisas que gostava de fazer. Há um grupo que ainda só teve dois concertos, mas que eu gostava muito de concretizar que é o Círculo, um trio com Rita Maria e Mário Franco. A ideia era fazer um disco de originais, com temas dos três, e gravar no próximo ano ou algo assim. Há um projecto de música improvisada com João Hasselberg e Eduardo Raon [harpa]. Está na calha, íamos gravar a Copenhaga, mas está entretanto em “stand by”. É possível que aconteça no próximo meio ano. E tive uma encomenda do Jazz ao Centro Clube que me deixou muito entusiasmado, mas que até agora ainda não avançou. A ideia era partir da obra “Erased de Kooning Drawing” de Rauschenberg, o princípio da desconstrução levado ao extremo. O Jazz ao Centro pediu-me que fizesse a desconstrução de um músico que fosse uma referência minha e eu concebi o “Erasing Monk”, dedicado a Thelonious Monk. Era para ser um trio com piano, electrónica e vídeo em tempo real. Não chegou a avançar, mas gostava muito de o concretizar.

 

Para saber mais

http://www.luisfigueiredo.net/

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