Sem vergonha do “groove”
Talento precoce, o saxofonista Ricardo Toscano fez-se notar desde muito cedo e tem sido uma figura presente na cena nacional ao longo dos últimos anos. O seu expressivo e enérgico saxofone alto está presente em múltiplos projectos portugueses, tocando nos grupos de João Hasselberg, Nelson Cascais, Mário Barreiros e Carlos Barretto, entre outros. O saxofonista oriundo da Margem Sul lidera também o seu próprio quarteto, acompanhado por outros jovens e promissores valores da cena nacional: João Pedro Coelho (piano), Romeu Tristão (contrabaixo) e João Pereira (bateria).
Combinando talento, energia e disponibilidade, Toscano será provavelmente o músico português de jazz mais activo neste momento. Não será por acaso que, neste ano de 2015, o saxofonista irá passar por quase todos os festivais de jazz nacionais. Apesar de tocar há vários anos, ainda não editou um disco em nome próprio – nem tem pressa, esse disco irá chegar quando chegar. Numa conversa descontraída num jardim de Lisboa, Ricardo Toscano conta de onde vem e para onde vai.
Como começaste a tocar?
Venho de uma família de músicos. Lá em casa toda a gente tocava algum instrumento. Sou da Amora, onde há muitas filarmónicas. Numa zona de cerca de três quilómetros há umas quatro filarmónicas! Há a tradição de ser um forno de músicos. Saem de lá muitos músicos... Quem me introduziu à música foi o meu pai, que é saxofonista tenor. Tinha 8 anos e comecei no clarinete. Comecei a tocar, gostava e tinha jeito. E depois entrei no conservatório.
E como é que chegaste ao jazz?
O jazz chegou-me pelo lado do meu pai, que tinha lá em casa muitos discos. A banda sonora da minha infância foram discos como “Blue Train”, o “Kind of Blue”, um álbum de Cannonball Adderley com Bill Evans que é um discaço, “Know What I Mean?”… Cresci a ouvir Coltrane. “Live at Antibes”, “A Love Supreme”…
E além do jazz?
Também ouvi muito funk, tipo James Brown, Earth, Wind & Fire, até Michael Jackson… e muita música latina também. Mas para mim o jazz sempre foi “a cena”. Aquilo que me batia mais era Coltrane no “Blue Train”. Especialmente naquele disco, o som está incrível. Fiquei fascinado com aquele som… Ouvia esse disco desde pequenino, mas houve uma altura, aos 7 ou 8 anos, quando estava a começar a entrar na música a sério, que percebi: é isto, quero fazer isto!
Como foi a aprendizagem do instrumento? Passaste pelo conservatório, pela escola do Hot Clube…
Entrei no conservatório com 13 anos… Foi uma experiência fixe, mas tive um professor que era um bocado insensível. Era um bocado duro e, se eu não fosse um gajo com cabeça, ele tinha-me lixado a vida logo ali. Mas na altura pensei: sei aquilo que quero, vou seguir em frente. Estive dois anos no conservatório, depois fui para a Escola Profissional da Metropolitana, ainda em clarinete. Só depois é que entrei na Escola Luís Villas-Boas do Hot Clube, quando tinha 16 anos, e aí comecei a estudar com Desidério Lázaro.
Ouvir e pensar
Terá sido nessa altura que foste tocar à Festa do Jazz do São Luiz, e começaste logo a dar nas vistas…
Ao ter aulas de jazz no Hot comecei a aprender a verbalizar aquilo que já sabia, de ter ouvido e de ter conhecido antes. Ouvi e ouvi, tipo esponja. Grande parte do meu estudo é ouvir, ouvir, ouvir. Ouvir e pensar. Não sou aquele tipo “ginasta”, que passa oito horas numa sala a tocar, à procura da perfeição. Para mim, tentar perceber como é que aquilo funciona é mais importante do que ser um mega-virtuoso. Os gajos de quem gosto tocam bem o instrumento, claro, têm cabedal a tocar, mas depois pensam muito à frente, pensam num conceito, não pensam só em “partir a loiça”.
E quem são esses músicos que mais admiras, especialmente saxofonistas?
Coltrane! Logo desde o início aquilo que me agarrou mais foi o Coltrane e o Cannonball. Mais tarde ouvi Charlie Parker e percebi que era incrível. Hoje em dia compreendo um bocado aquilo que ele fazia, mas só uns dois anos depois de ter começado é que percebi a cena dele, o ritmo e as canções. Acho que agora percebo a magia dele, que não tem a ver com virtuosismo… Há outros gajos que adoro. Gosto muito de Joe Lovano…
E chegaste mesmo a estudar com o Lovano. Como é que isso aconteceu?
Eu tinha uns 17 anos e sabia que ele vinha tocar ao Estoril Jazz. Perguntei a Luís Hilário em que hotel é que ele estava instalado e telefonei para lá… Disse-lhe que adorava a cena dele e que gostaria de ter uma aula privada. Ele disse-me que não ia dar para a aula privada, mas convidou-me a aparecer no “soundcheck”. Fui lá, assisti ao “soundcheck” e, quando acabou, fui ao camarim falar com o Lovano. Disse-me para eu tocar, eu toquei, ele tocou, falámos muito e foram quase duas horas ali… Foi melhor do que uma aula privada!
O que aprendeste com ele?
Ensinou-me coisas que só hoje estou a tirar mais partido delas. Falou-me de Charlie Parker. Ele pode parecer que toca muito diferente do Parker, mas na verdade não. A cena de tocar as melodias… ele diz que foi Charlie Parker que lhe ensinou. Ensinou-o a tocar canções. Disse-me também que Sonny Rollins foi quem o ensinou a tocar aquilo que ama. Disse-me coisas assim. Na altura achei «este gajo está maluco», mas se pensares nisso... Esses gajos deixaram tanta coisa que nunca conseguiremos descodificar a 100% a grande mística deles.
E mais saxofonistas recentes de que gostes?
No outro dia ouvi Tim Berne e adorei. Mas gostei naquele dia, naquele momento, não me sinto com vontade de procurar todos os discos dele… Geralmente gosto de malta mais ligada ao “groove”, à música mais tribal, mais “pé no chão”, com “swing” pesado, funk… Nem ando a procurar muitos saxofonistas agora. Ando mais a tentar perceber a música como um todo. Por exemplo, tento perceber a maneira como Elvin Jones tocava… Ultimamente tenho andado a ouvir muito o quinteto de Wayne Shorter. Pá, o Shorter é o meu herói hoje em dia. Voltei a ouvir o quinteto de Miles Davis e ando a tentar perceber como é que eles tocavam. Eles pensavam em frases... Havia os temas, a harmonia, mas muitas vezes a harmonia ia para outro sítio e eles tocavam frases, e aquilo era à base do ritmo. É fantástico. Ando a absorver os tipos de conceitos que essa malta usava, a tentar perceber em que é que eles pensavam quando tocavam.
Também tiveste aulas com outros saxofonistas, como Greg Osby…
Na altura em que tive o “workshop” com Greg Osby eu era muito novo e não consegui assimilar o que ele tinha para me ensinar… Já no ano a seguir, quando tive o “workshop” com Danilo Perez, já sabia mais de música e ele entrou na minha vida numa altura crucial. Estava numa fase em que aprendia muito. Com o Danilo foi incrível. Ele falou muito sobre ritmo, sobre as pessoas, sobre companheirismo. Foi uma alta mudança sobre a forma de ver a música, de modo espiritual. Isso foi muito importante para mim.
E mais saxofonistas?
Dewey Redman, adoro o gajo! Adoro saxofonistas… Há um disco do Coltrane que estou agora a ouvir sem parar, que é o “Expression”.
O Coltrane está sempre presente…
Quero aprender! É claro que aquilo está a entrar cá para dentro. Mas estou a ser honesto, amo aquilo! Se calhar é por ter ouvido muito na minha infância, sinto que aquilo é que é a cena. Isso e aquelas bandas dos anos 1980 e 90, aquela malta que voltou com o “swing”, Kenny Garrett, Branford Marsalis, Wynton Marsalis… Quando ouço Jeff “Tain” Watts a tocar com Kenny Kirkland e Bob Hurst, na minha cabeça eu sou aquilo, eu sinto-me ali! Aqueles cabrões não têm vergonha de “groovar”! Acho que hoje em dia a malta tem vergonha de “groovar”, tem medo que isso não seja bem visto…
Que se lixe
Houve mais algum encontro com algum músico que tenha sido fundamental no teu percurso?
Tenho uma história incrível com Wynton Marsalis! Estava com a Mila [Dores, cantora] de férias em Nova Iorque, em Abril de 2013, e a ideia era ver uns concertos e ter umas aulas, no relax. Ela ia ter um “workshop” de voz, mas aquilo foi cancelado e fomos dar uma volta. Fui a uma loja de instrumentos comprar uma boquilha nova e estive lá a tocar um bocado. Depois encontrei-me com Walter Smith III, que toca com Ambrose Akinmusire: tinha combinado uma aula com ele. A seguir estávamos a passear e de repente vejo o Wynton! Ele estava acompanhado com uma namorada e eu disse à Mila, «olha o Wynton!», e ela «ah, não é nada».
Apostámos cem dólares, fomos lá falar com ele e vimos que era mesmo o Wynton. Estivemos a conversar um bocadinho. Ele perguntou de onde éramos, disse que adora Portugal e passado um bocado perguntou se eu toco. Respondi que sim, que «faço o que posso». Ele então ficou calado a olhar para mim durante uns 15, 20 segundos, com uma alta tensão no ar. Então perguntou: «Vais tocar? Gostava de te ouvir tocar.» Eu disse-lhe que não, que estava só de férias, e perguntei se ele me podia dar uma aula privada. Ele disse que não podia, porque não tinha tempo. Mas de repente olhou para o relógio e disse assim: «E se eu te ouvisse durante uns cinco, dez minutos? Não cobro nada. Estavas numa de vir?» E eu: «Claro, vamos lá!» Deu-me a morada e disse para aparecer lá dali a 15 minutos.
Claro que quando cheguei fiquei a olhar para a campainha durante uns dois minutos… Toco ou não toco? A Mila disse «és mesmo maricas», e tocou ela à campainha. E eu pensei: «Claro, não és tu que vais tocar…» Entrámos em casa do gajo, um alto casarão. Cheguei e aquela boa onda da rua desapareceu. Estava em casa do gajo e ia tocar para ele, estava tenso e só pensava, «estou lixado»! Ele disse «monta aí a corneta» e enquanto eu preparava o saxofone o tipo agarrou no trompete e tocou pela sala. Nesse momento é que a cena me bateu: «Eia, é o Wynton! E agora?» Ele começou a tocar um blues lento. Aí acusei a pressão, mas pensei: «Que se lixe, o gajo só me pode ajudar a tocar melhor. Sou um zé-ninguém, não tenho nada a perder, só me pode ajudar a tocar melhor.»
Comecei a tocar com ele e a desinibir. Ele teceu-me uns elogios muito simpáticos. Foi o melhor que podia ter ouvido da boca dele: «Gostei de te ouvir, porque tu és sério, tu amas o que tocas e o teu som de saxofone é a sério, “real shit”…» Mas também não foi só elogios, cascou noutras coisas. Disse duas coisas curiosas. Perguntou-me a idade, eu na altura tinha 19, e ele disse, «não, diz lá a sério…». Garanti-lhe que era mesmo a minha idade e ele respondeu: «Os teus pais devem estar muito orgulhosos de ti.» E depois disse-me outra coisa: «O teu pai toca saxofone tenor, não toca?» E eu a pensar: «Porra, mas conheces o gajo?» E ele: «Consigo ouvir isso naquilo que tocas.» Esses 10, 15 minutos acabaram por ser duas horas.
Estivemos a tocar temas, a falar de harmonia, foi incrível. E depois ainda me convidou para assistir ao ensaio da banda dele, no dia seguinte. Cheguei ao estúdio para ver o ensaio e o Wynton disse para os gajos da banda: «This 19 year old motherfucker can really play this shit!» E eu lá cheio de vergonha. Depois ainda toquei com o saxofonista do gajo, Walter Blanding. Estive a trocar uns “chorus” com o tipo.
Ainda gostavas de conhecer algum músico?
Adorava conhecer Roy Haynes. Adorava apertar-lhe os ossos e dizer: «Como é que é, caraças?! És o maior! És um dinossauro incrível!» Ele ainda está a tocar e bem…
Começaste a tocar ao vivo muito cedo e desde logo foste reconhecido como um talento precoce. Foste distinguido na Festa do Jazz do São Luiz com 16 anos... Como lidaste com essa pressão?
Pressão? Não, não sinto pressão… Se calhar vou sentir alguma pressão quando lançar um disco com música minha. Mas por outro lado não me preocupo com isso, faço o melhor que sei e não me preocupo com aquilo que possam dizer. Há malta que não percebe bem o momento em que estou e que comenta, «agora o pessoal diz que és alta cena, vê lá se não encostas à “box”», como se agora estivesse demasiado confortável… Como é que posso “encostar” se, de cada vez que toco, estou a expor-me completamente a coisas que quero que sejam diferentes, estou a arriscar? Cada nota que dou é real, está ali, naquele momento…
Também não ligo se alguém refere «ah, a malta da crítica diz que já és alta cena»... Eu não toco a pensar que tenho de cumprir. Toco porque gosto de tocar, é o que eu faço, não sinto pressão. Mas há outra coisa: meto muita pressão sobre mim mesmo, isso eu meto. É a única maneira de te puxares para a frente, de puxar pelos teus limites.
Mandar o ego fora
Lideras o teu próprio quarteto, que junta três músicos da nova geração: João Pedro Coelho, Romeu Tristão e João Pereira. Quando é que pensam gravar?
A primeira coisa é: eu não quero gravar “standards”. Tenho muito respeito por aquilo que já foi feito na versão original. E não tenho tido tempo nem tido esse chamamento interior a dizer-me «escreve». Não estaria a ser honesto comigo próprio se me forçasse a fazer uns temas só para gravar um disco. Temos tocado “standards” ao vivo e tocar ao vivo é muito desafiante, é o que eu amo. Nos concertos o primeiro tema do alinhamento costuma ser o “Crescent” de John Coltrane. Sabes porquê? Para mandar logo o ego fora! Um gajo vai para lá a pensar «sala cheia, vamos partir isto tudo», mas o que normalmente acontece é que acaba o solo de saxofone e penso assim: «Que merda, não consigo fazer nada disto.»
Respeito muito a versão original, é do meu “top” 10, é a minha referência. Um gajo quer sempre chegar lá, mas isso nunca acontece, nunca acontece pensar, «fiz um solo do qual me orgulho». Nem vai acontecer… Isso é fixe para mandar logo o ego fora. Depois, no resto do concerto, esforço-me ao máximo!
Tocaste recentemente com o Sexteto de Jazz de Lisboa, substituindo o saxofonista original Jorge Reis, recentemente falecido. Como correu essa experiência?
Quando o Jorge já estava doente eu substituí-o no septeto de Tomás Pimentel, e também já o tinha substituído na “big band” do Hot Clube… Para já, acho que compreendo aquele estilo de música, que é uma música com “harmonia portuguesa”. Isto pode soar mal, mas tem muito a ver com a tradição da música portuguesa. Tu ouves aquilo como ouves João Paulo Esteves da Silva e, mesmo sem saberes de quem é, percebes que aquilo é português. Sem querer parecer arrogante, acho que foi uma substituição um bocado evidente. Especialmente porque éramos muito amigos, sempre tive muito carinho pelo Jorge. Mas ao tocar com eles não penso que estou a substituí-lo. Estou ali, dou o meu melhor. É uma banda como as outras, mas é uma banda com história.
Neste momento, além do teu quarteto e do Sexteto de Jazz de Lisboa, integras outros grupos: o Mingus Project de Nelson Cascais, o quarteto de Mário Barreiros, o grupo de João Hasselberg… Em que outros projectos estás envolvido?
Acabámos de gravar com o Septeto do Hot Clube, música nova de Bruno Santos. O espírito continua a ser jazz, mas esta música nova tem muito “groove”, curto muito aquilo. Também tenho tocado com os Lokomotiv do Cató [Carlos Barretto]…
E também tocas para lá do jazz…
O meu gosto é bastante amplo. Ouço muita música, gosto de música boa. Conheço malta do jazz que diz que não gosta de música brasileira. Como é que um gajo pode dizer que não gosta das músicas de Jobim, de Chico Buarque, de Milton Nascimento? Como é que um gajo pode dizer que não gosta? Aquilo é incrível, aquele amor todo… Gosto de muitas coisas diferentes. Gosto de estar envolvido na música portuguesa, de tocar com a malta do fado. Toquei com Fernando Alvim, toquei num concerto de homenagem a José Luís Tinoco, o compositor daquelas músicas todas incríveis, “Um Homem na Cidade”, “No teu Poema”… E nestas coisas do fado tenho oportunidade de tocar clarinete.
Ainda tocas clarinete?
Sim, nestas coisas do fado, da música portuguesa. O saxofone associo logo à minha cena, é muito jazzístico. Com o saxofone preciso de espaço, dou uma nota e é logo o fim do mundo… O clarinete é bom para tocar com mais delicadeza. Toco clarinete e adoro, divirto-me p’ra caraças.
Fazes parte de uma nova geração do jazz português, que junta talento e criatividade, ao lado de nomes como João Hasselberg, André Santos, Diogo Duque, entre outros. Como vês esta geração do jazz nacional? Será o resultado da profissionalização do ensino do jazz, que se verificou nos últimos anos? Por outro lado, estes músicos fazem músicas abertas, que vão para lá do jazz tradicional.
As escolas vieram trazer mais gente competente. A malta, quando é séria, não precisa de escolas. Um bom professor não te vai ensinar nada, vai ensinar-te a aprender. As escolas não geram artistas, geram músicos competentes. Estes músicos passam muito tempo a investigar. Mesmo que não tivessem passado por escolas, iriam certamente chegar até à sua própria cena. O essencial é essa procura, é investigar. Sabes que nunca vais ser igual ao teu herói, vais ser sempre o número dois. O mais importante é conheceres-te o melhor possível, conheceres o teu potencial, para depois poderes explorá-lo. Acho que é assim que esta malta pensa. Está num processo de autodescoberta e a maior parte desse pessoal escreve música boa e diferente daquilo que se tem feito.
Este ano já tocaste ou vais tocar em quase todos os festivais portugueses: Estoril Jazz, Jazz ao Centro, Portalegre Jazzfest, Festa do Jazz, Funchal Jazz, AngraJazz… Serás provavelmente o músico português mais activo neste momento.
Eh pá, nem tinha pensado nisso! Fico contente, é sinal de que a malta gosta de mim, as pessoas chamam-me e gostam do que faço. É uma fase boa, que espero que esteja só a ser o início. Tem a ver com a coincidência de estar em muitas bandas que vão tocar a muitos sítios diferentes… É fixe, mas nem dou por isso acontecer. Tenho tempo para fazer essas coisas todas, para estudar, para tocar, para vir aqui ao jardim, para treinar boxe…
Estás a treinar boxe? Miles Davis também treinava…
Sim, e outros músicos também. Acho que tem a ver com o meu lado competitivo. Sempre pratiquei desporto. Quando era mais novo costumava jogar à bola (e ainda jogo) e cheguei a jogar ténis de mesa federado. O boxe é uma coisa mais ou menos recente, mas agora treino mais e aquilo faz-me bem. E consigo aliar o boxe ao jazz. A filosofia, o ritmo, as combinações. Imagina um solo de bateria dos anos 1950: ba-ba-ba-di-ba-ba-pa [gesticulando movimentos de boxe ao ritmo do solo de bateria]…