Richard Davis (1930-2023)
O contrabaixista norte-americano Richard Davis faleceu no dia 6 de setembro, aos 93 anos de idade. A notícia foi confirmada pela filha, Persia Davis.
Richad Davis ficou conhecido pelos seus contributos para álbuns seminais, de jazz e não só, como “Out to Lunch!”, de Eric Dolphy, “Point of Departure”, de Andrew Hill, “Greetings From Asbury Park, N.J.” e “Born to Run”, de Bruce Spingsteen, e “Astral Weeks”, de Van Morrison. (Sobre este último, o crítico Greil Marcus escreveu no “The Rolling Stone Illustrated History of Rock and Roll”, que Richard Davis tocou «o melhor baixo já ouvido num álbum de rock».) Durante a sua longa carreira tocou música clássica sob a direção dos maestros Igor Stravinsky, Leonard Bernstein, Pierre Boulez, Leopold Stokowski e Gunther Schuller.
Richard Davis nasceu a 15 de abril de 1930, em Chicago, e rapidamente se dedicou à música de corpo e alma. Começou o seu percurso com os irmãos, no papel vocal de baixo num trio vocal familiar. Nos tempos do liceu (na DuSable High School), estudou contrabaixo com o seu professor de teoria musical e diretor de orquestra, o capitão Walter Dyett. Foi membro da Orquestra Sinfónica Juvenil de Chicago (então conhecida como Orquestra Juvenil da Grande Chicago) e tocou no primeiro concerto da orquestra, no Orchestra Hall de Chicago, em novembro de 1947. Numa fase de aprendizagem mais avançada, estudou contrabaixo com Rudolf Fahsbender, membro da Orquestra Sinfónica de Chicago, enquanto também frequentava o VanderCook College of Music.
Após a faculdade, Richard Davis tocou em grupos que animavam salões de dança; os contactos que então estabeleceu levaram-no ao pianista Don Shirley, com quem se mudou para Nova Iorque, tendo tocado juntos até 1956, momento em que Davis integrou a Orquestra Sauter-Finegan. No ano seguinte passou a fazer parte da secção rítmica de Sarah Vaughan, fazendo digressões e gravando com a cantora até 1960. Durante a década seguinte, Davis passou a ser muito requisitado em vários círculos musicais. Trabalhou com muitas formações, incluindo as lideradas por Eric Dolphy, Jaki Byard, Booker Ervin, Andrew Hill, Elvin Jones, Archie Shepp, Roland Kirk, Pharoah Sanders e Cal Tjader. De 1966 a 1972, foi membro da Orquestra Thad Jones/Mel Lewis. Durante esse período, colaborou ainda com Miles Davis, Dexter Gordon, Joe Henderson, Ahmad Jamal, Oliver Nelson e Frank Sinatra. Entre 1967 a 1974, o painel internacional de críticos da revista Downbeat elegeu-o como Melhor Contrabaixista.
Depois de viver em Nova Iorque durante 23 anos, mudou-se em 1977 para o estado do Wisconsin, onde se tornou professor na Universidade de Wisconsin-Madison, ensinando contrabaixo, história do jazz e improvisação durante mais de quatro décadas. Entre os seus antigos alunos contam-se William Parker, Hans Sturm, David Ephross, Karl E. H. Seigfried, Alex Kalfayan e Ryan Maxwell. «Eles estavam sempre a ligar-me para eu vir para aqui», disse Davis numa entrevista de 2019 ao sítio Madison365. «Finalmente, acedi. Nunca tinha ouvido falar de Madison… Achei que era hora de partilhar o meu conhecimento com os jovens.»
Richard Davis também foi um acérrimo defensor da comunidade negra de Madison. Davis e Peter Dominguez, o seu primeiro aluno licenciado, criaram a Fundação Richard Davis para Jovens Contrabaixistas em 1990. A Fundação organiza masterclasses anuais para músicos com idades entre os três e os dezoito anos. Em mais de uma ocasião, Davis organizou a conferência na sua própria casa. Em 1998, criou o Projeto de Ação de Retenção, que facilitou o estabelecimento de diálogos abertos sobre raça e cultura. Em 2000, fundou o Institute for the Healing of Racism, em Madison, que visa aumentar a consciência sobre a história e a patologia do racismo e promover a igualdade racial.
Victor DeLorenzo, membro-fundador dos Violent Femmes, grupo pós-punk oriundo de Milwaukee, também tocou com Davis. Em declarações à rádio WORT, de Madison, após a morte do veterano contrabaixista, DeLorenzo partilhou alguns episódios passados com ele. Segundo DeLorenzo, Davis era um músico incrível porque estava em constante aprendizagem: «Ele era um músico talentoso, pois era muito estudioso e tinha um grande conhecimento da linguagem do jazz. Mas também era conhecido e respeitado como um músico que poderia tocar com qualquer outro músico. Ele simplesmente tinha aquele tipo de personalidade aberta.»
Ricard Davis faleceu na passada quarta-feira, 6 de setembro, após vários anos de cuidados hospitalares.