Hot Fellini: Ensaio de Orquestra no CCB
O que acontece quando uma orquestra recusa assumir a sua natureza coletiva e cada indivíduo tem uma visão exagerada de si mesmo e da sua função, elegendo o maestro como inimigo comum? Este é o mote, sintomático de um tempo em que se exacerbam individualismos, para a peça com direção de Tónan Quito e música de Filipe Melo, que adapta o filme “Ensaio de Orquestra” (1978), do cineasta italiano Federico Fellini, a apresentar no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém (CCB) nos próximos dias 4 e 5 de março (respetivamente, sexta, às 21h, e sábado, às 19h).
No filme, uma orquestra clássica encontra-se num oratório, local sagrado, para ensaiar; neste caso é a Orquestra de Jazz do Hot Clube de Portugal e o ponto de encontro é o palco da sala lisboeta. Aquando da estreia, “Ensaio de Orquestra” foi alvo de duras críticas: uns viram nele uma apologia do fascismo, outros tão só uma abordagem política ingénua, de tom conservador e reacionário. Mas para o próprio Fellini trata-se de algo diferente: «É uma parábola ética para provocar uma certa vergonha no povo, para mostrar que a loucura desorganizada das pessoas pode provocar a loucura organizada do Estado, a ditadura.» A peça propõe uma reflexão em torno do papel do músico de jazz e da complexa relação entre a liberdade artística individual e a dimensão coletiva.