Orfeu Negro edita “Música Negra” de LeRoi Jones
Volume essencial em qualquer biblioteca sobre música negra e, concretamente, jazz, “Black Music”/“Música Negra” de LeRoi Jones (aka Amiri Baraka) (1934-2014) – poeta, dramaturgo, romancista, crítico de música, professor e ativista social norte-americano – acaba de ser editado pela primeira vez em Portugal com chancela da Orfeu Negro. O livro conta com tradução de João Berhan, prefácio de Kalaf Epalanga e desenhos de Francisco Vidal.
Originalmente levado à estampa em 1967, “Música Negra” colige crónicas, recensões e ensaios que o autor escreveu entre 1959 e 1967 para diferentes publicações e que documentam com grande proximidade o que se viveu nesse período em que o jazz, em especial o free, era uma arma por uma sociedade melhor. A música que então emergia nos clubes foi vertida para discos que hoje são referências absolutas no género e LeRoi Jones esteve lá, sendo testemunha direta de um processo que teve como principais protagonistas músicos revolucionários como Thelonious Monk, Ornette Coleman, Sun Ra, Cecil Taylor, Archie Shepp, John Coltrane, Wayne Shorter, Albert Ayler, Don Cherry e Sunny Murray, entre outros. O relato que Jones faz desta fase seminal da história do jazz é indispensável para uma compreensão global de tudo o que estava em jogo, nos planos musical, social e político, numa altura marcada pela segregação racial e pelos movimentos pelos direitos civis. A presente edição inclui ainda uma entrevista ao autor, datada de 2009, e uma seleção de discos marcantes do free jazz daquele período.
Nascido Everett LeRoi Jones, em Newark, mudou de nome para (Imamu) Amiri Baraka após o assassinato de Malcolm X no Audubon Ballroom, Nova Iorque, em 1965. Esteve ligado à Geração Beat de Jack Kerouac e Allen Ginsberg e é autor de diversos ensaios denunciadores do racismo e do colonialismo. O FBI temia-o a ponto de o elogiar, considerando-o como «a pessoa que provavelmente emergirá como líder do movimento pan-africano nos Estados Unidos.» “Blues People: Negro Music in White America” (1963) e “Música Negra” são porventura os seus livros mais decisivos. Foi igualmente performer e declamador (o rap, o hip-hop e estilos sucedâneos muito lhe devem), tendo inclusivamente atuado ao vivo e gravado com vários músicos do free. Ficou célebre a sua colaboração no registo inaugural do New York Art Quartet (John Tchicai, Roswell Rudd, Lewis Worrell e Milford Graves), em 1965, onde declamou o controverso poema “Black Dada Nihilismus”.
Mais de meio século volvido, “Música Negra” continua a ser um livro indispensável e que finalmente conhece edição nacional.