Dawn of Midi e Lina Nyberg Band em digressão por Portugal
Dois grupos de características invulgares incluíram Portugal nas suas digressões europeias. Provenientes de Brooklyn, mas integrando músicos de Marrocos, da Índia e do Paquistão, os inigualáveis Dawn of Midi (foto acima) estarão a 16 de Fevereiro no Teatro Maria Matos, em Lisboa, vão no dia seguinte ao GNRation, em Braga, e a 18 tocam no Salão Brazil, em Coimbra. Mais longa é a passagem da sueca Lina Nyberg Band pelo nosso país: a 18 deste mesmo mês apresentar-se-á no Hot Clube de Portugal, em Lisboa, a 19 instalam-se no Salão Brazil e a 20 seguem para a Porta-Jazz, no Porto. Acrescentam-se na agenda do quinteto “workshops” dia 17 no Conservatório de Coimbra, a 18 no lisboeta Desterro e a 20 na Porta-Jazz.
O trio de piano, contrabaixo e bateria formado por Amino Belyamani, Aakaash Israni e Qasim Naqvi continua as premissas introduzidas pelo jazz minimalista dos The Necks, mas levando as suas estruturas repetitivas ou de desenvolvimento por elipses, inspiradas nas músicas tradicionais de transe do Norte e do Ocidente de África, até desfechos que não distam muito do drum ‘n’ bass, do dubstep ou do techno. Os três instrumentos acústicos chegam a soar como se se tratasse de electrónica, transfigurando-se por meio de técnicas ou motivos invulgares no jazz, bem como de preparações (caso, sobretudo, do piano, com intervenções directas nas cordas). A improvisação é praticamente inexistente, porque a música se baseia em polirritmias extremamente complexas que funcionam por simpatia e dependem de sincronismos, mas tudo ganha uma fisicalidade que convida à dança. Segundo a revista Rolling Stone, o que fazem «parece impossível».
A formação proveniente da Escandinávia tem uma aparência mais convencionalista, praticando um jazz vocal que está a meio caminho entre a tradição histórica desta tendência e o cançonetismo pop, o que passa pela utilização dos “standards” de uma e de “covers” da música popular brasileira, com especial incidência no espólio de Caetano Veloso. Mas trata-se só de aparência, ou não fosse um elemento fundamental neste grupo liderado pela cantora Lina Nyberg um dos mais importantes guitarristas da improvisação experimental na Europa, David Stackenas. Ele, a pianista Cecilia Persson, o contrabaixista Josef Kallerdahl e o baterista Peter Danemo têm por característica pegar nas fórmulas “old school” do jazz e desmontá-las segundo os preceitos “free form” – nunca resultando tal em perda de coesão. Por cima, a voz de Nyberg faz o que não é habitual nestes domínios, tomando liberdades estranhas ao “mainstream”.
Cada um a seu modo, teremos entre nós dois grupos que têm como particularidade utilizarem recursos de “vanguarda” em abordagens que estão a reconciliar as audiências não só com o princípio da inovação como com este idioma musical a que chamamos jazz.