Protesto nos Países Baixos contra a não inclusão do jazz na rádio e televisão públicas
O investigador Pedro Cravinho, colaborador da jazz.pt, escreve sobre o protesto levado a cabo recentemente nos Países Baixos, apoiado pela Voice for Jazz Musicians in Europe, contra a não inclusão do jazz nas estações públicas neerlandesas de rádio e televisão.
A cantora de jazz Fleurine Verloop, atual presidente do Dutch Jazz Musicians Union BiMpro e igualmente presidente da Voice for Jazz Musicians in Europe (VJME), liderou um protesto jazzístico pacifico contra a decisão institucional das estações de rádio e televisão públicas nos Países Baixos em deixarem de incluir jazz e world music na sua programação regular, apesar de continuarem a transmitir pop, rock e música clássica.
Deixando por uns breves momentos o estado monárquico dos Países Baixos e olhando para a República Portuguesa o mesmo se poderá argumentar sobre a falta de interesse e investimento do suposto serviço público de televisão em Portugal na programação regular de jazz no pequeno écrã português. Como tenho ressaltado em várias ocasiões na minha rubrica (des)encontros com o jazz (e música improvisada) em Portugal, relativamente ao caso português, e ao jazz em particular, é lamentável a falta de investimento ao longo das últimas décadas democráticas em Portugal face aquele que foi realizado durante o regime fascista de Salazar e Marcello, apesar de não ser sequer possível comparar as cenas jazzísticas desses tempos com a actualidade tendo em conta o leque de excelentes improvisador@s, big bands e compositor@s de jazz actualmente em Portugal continental e insular.
Mas voltando aos Países Baixos, a iniciativa contou com o apoio da VJME, e em certa medida exemplifica a importância de uma união jazzística além-fronteiras, pois os problemas de uns não são muito diferentes de outros, levou centenas de artistas de jazz e música improvisada residentes nos Países Baixos a juntarem-se e marcharem em protesto até a sede da NPO (Nederlandse Publieke Omroep) onde exigiram falar com os responsáveis pela programação. A estes foi oferecido um livro com quase 300 cartas escritas por artistas, directores de festivais, clubes e outros palcos como @bimhuis @concertgebouw @northseajazzfestival.
Depois dessa marcha bem-sucedida em Hilversum, os artistas deslocaram-se de autocarro até à capital Haia, onde protestaram em frente à Câmara dos Deputados apresentando igualmente uma petição. A estes juntou-se mais de uma centena de artistas locais, e a Orquestra de Jazz do Concertgebouw apresentou uma canção especial de protesto que terminou com uma jam session. Fleurine comentou: «Até os políticos dançaram. Se alguns deles não sabiam o que era jazz – tenho certeza de que alguns deles agora gostam.»
Como resultado deste protesto jazzístico pacífico, o conselho de diretores do serviço público de rádio televisão dos Países Baixos irá agora reunir-se com uma comissão dos manifestantes para discutirem a possibilidade de existir mais diversidade na sua programação com a inclusão de jazz nas emissoras estatais. Ficaremos à espera do resultado dessas negociações. Mas para já, podemos dizer que, jazzisticamente falando, a “união fez a força”!
O autor segue a ortografia anterior ao Acordo Ortográfico de 1990.
Pedro Cravinho é Vice-Presidente da Voice for Jazz Musicians in Europe e Vice-Presidente da Rede Portuguesa de Jazz