(des)encontros com o jazz (e música improvisada) em Portugal #07
Fernando Curado Ribeiro, um crooner perfeito no Portugal de Salazar
No sétimo texto da sua rubrica “(des)encontros com o jazz (e música improvisada) em Portugal”, o investigador Pedro Cravinho fala-nos do percurso de Fernando Curado Ribeiro, figura importante da rádio, do cinema e do teatro, como produtor, locutor e cantor, e sua ligação ao cancioneiro norte-americano e ao jazz.
A ligação de Fernando Curado Ribeiro a programas na rádio em Portugal dedicados ao jazz já foi abordada pelo autor desta rúbrica em outro lugar. Não apenas enquanto produtor e locutor dos seus programas radiofónicos, como no caso do ABC do Jazz, que foi para o ar em Novembro de 1944 – precisamente um ano antes do suposto primeiro programa de jazz na rádio em Portugal –, como também locutor do “Hot Club”, de Luís Villas-Boas, que rapidamente se converteu num programa de culto entre os aficionados do jazz de norte a sul do país, antes da sua locução ter ficado a cargo de Jaime da Silva Pinto. No entanto, Curado Ribeiro destacou-se igualmente como cantor na rádio, tendo alguma predilecção pelo cancioneiro norte-americano e standards de jazz, a par de outros géneros. Durante a fase inicial da sua carreira, para além da rádio, por vezes cantava e tocava piano no cabaret Miami, ao lado do Maxim’s, na famosa Praça da Alegria – ainda antes do Hot – local onde viria mais tarde a nascer o Clube Universitário de Jazz (CUJ) de Raul Calado antes de ser fechado pelo regime. Na década de 1940, em plena segunda Guerra Mundial, não é de estranhar que Curado Ribeiro tivesse uma grande admiração pelas vozes de Bing Crosby e Tommy Dorsey, e pelo swing da Glenn Miller Orchestra, conforme referiu numa entrevista ao Diário de Notícias.
Nos primeiros tempos de carreira conciliava a locução com a canção na Emissora Nacional de Radiodifusão. Nesse período junta-se «aos irmãos Cunha Gonçalves, Herculano de Almeida, à Maria da Graça» para formarem os Excêntricos do Ritmo. Acontece que, no então Portugal salazarento, a partir de 1944, Curado Ribeiro ficou proibido de cantar aos microfones da Emissora Nacional, tendo sido informado que passara a ser «incompatível que a mesma voz cantasse» (um repertório variado, no qual se incluíam clássicos do cancioneiro norte-americano e standards de jazz) e simultaneamente «lesse a notícia mais séria do dia.» A solução encontrada por Curado Ribeiro foi cantar no Rádio Clube Português juntamente com os Excêntricos do Ritmo. Tal como o título desta rúbrica antevê, este texto será dedicado aos (des)encontros de Fernando Curado Ribeiro com o jazz (e música improvisada)em Portugal durante o regime do Estado Novo, prestando assim homenagem a uma figura maior da rádio, cinema e teatro em Portugal e simultaneamente, um crooner e aficionado do cancioneiro norte-americano.
Fernando Teixeira Curado Ribeiro (25.05.1919 – 04.06.1995) começou a cantar enquanto estudante nos serões do Instituto Industrial, acabando por abandonar os estudos para prosseguir uma carreira de artista. Nada de estranho para muit@s leitor@s. No entanto, para @s mais jovens, importa referir que paralelamente à sua carreira de cantor, locutor e produtor de programas de rádio, Fernando Curado Ribeiro destacou-se como um importante actor em longas-metragens do cinema português na década de 1940. Participou em filmes como “O Costa do Castelo” (1943), “A Menina da Rádio” (1947), “Os Vizinhos do Rés-do Chão” (1947) e o “Leão da Estrela” (1947) (Para @s mesm@s leitor@s jovens: se ainda não conhecem, recomenda-se; par@ @s outr@s, que revejam essas imagens a preto e branco).
Em Portugal, sobre a sua actividade de cantor na década de 1940, descreviam-no assim: «um crooner perfeito. Foi buscar um pouco da imagem de Bing Crosby e construi aquela voz, porque achou que era aquela. Apanhou um certo repertório que considerou poder ser bom foi por ali. Como cantor era perfeito. Tinha uma voz muito quente.» Na vizinha Espanha fascista, sob a governação do General Francisco Franco, numa revista dedicado à música sincopada publicada do outro lado da fronteira, um artigo sob o título “Crónica de Portugal”, descrevia a cena jazzística em Lisboa e Curado Ribeiro aos leitores espanhóis assim:
«El jazz está interesando verdaderamente al pueblo portugués. Son muchos menos los detractores que tenia y ya es una multitud que siente respeto ante Duke Ellington o delira de entusiasmo ante Harry James y Benny Goodman. Gente joven; desde luego, forma esta inmensa multitud... Los discos de jazz venden mucho en Lisboa. Todos los meses llegan novedades que se agotan rápidamente. Uno dos mayores éxitos de estos tiempos es “Take the a [sic] Train”, de Streyhorn [sic]… Sousa Pinto, Toselli y Almeida Cruz, son los mejores conjuntos portuguese [sic]. De los vocalistas portugueses merece atención especial y debiera ser conocido del publico extranjero, Curado Ribeiro, un espléndido “crooner” ... Y, para terminar, el “boogie woogie: este ritmo maravilloso, está entusiasmando en Lisboa…» (destacado pelo autor desta rubrica).
Ao longo dessa fase inicial da sua carreira artística, Curado Ribeiro ia ganhando reconhecimento dentro e fora de portas, apesar do isolamento a que Portugal estava condenado, sintetizado pelo lema “orgulhosamente sós”, ao qual o velho ditador português, obcecadamente, submetia a maioria da população. Durante a campanha da Presidência da República de 1948-1949, tal como muit@s outr@s apoiantes, Curado Ribeiro terá assinado uma lista de apoio ao candidato Norton de Matos, tornando-se de imediato numa persona non grata do regime e em mais uma das suas vítimas. Rezavam assim os registos da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) sobre Fernando Teixeira Curado Ribeiro: «fervoroso adepto da organização política ilegal denominada ‘M.U.D.»” Em outro documento oficial constava: «é pessoa de tendências comunistas [sic].»
Importa referir que em 1948, aliás, relembrar que entre 1 de Janeiro de 1932 e 31 de Dezembro de 1948 foram detid@s em “prisão correcional” (termo pidesco) 18.714 portugueses e portuguesas (maioritariamente homens) e uns poucos estrangeiros e estrangeiras, que resultariam em sessenta e sete mortes (67), e mais de meio milhar deram “baixa à enfermaria”. Metade das 18.714 detenções foram por motivos políticos e as restantes apenas para averiguações. A “Bem da Nação” não era preciso existir motivo para ser preso, bastava uma simples denúncia, ou alegação de “ideias subversivas” – a PIDE prendia tod@s @s defensor@s de valores democráticos e da liberdade. Após a detenção eram-lhes suspensos todos os “direitos políticos”. Depois de restituíd@s à sociedade continuavam sujeit@s «a medidas de segurança de liberdade vigiada».
Relativamente a Curado Ribeiro, tendo em conta que era um artista famoso, um verdadeiro galã do cinema português e uma importante “voz da rádio”, em vez de seguir como milhares de outros e outras para o “Depósito de Presos de Caxias”, do Aljube, para o Forte de Peniche, ou mesmo para a Colónia Penal de Cabo Verde (ou seja, para o Campo de Concentração do Tarrafal, também vulgarmente designado como o “Campo da Morte Lenta”), tiraram-lhe as carteiras profissionais e enviaram-no para Angola. Chegou a África sem trabalho, nem dinheiro, conforme confidenciou anos mais tarde. Nos cadastros (biografias prisionais) e processos da PIDE essa prática era designada por “condenado ao degredo.” Medida persecutória que interrompeu uma brilhante carreira artística em ascensão!
Curado Ribeiro só regressaria do exílio à metrópole entre 1953 e 1954, voltando a trabalhar na rádio e desenvolvendo uma importante e brilhante carreira no teatro em Portugal. Relativamente ao jazz, chegado à capital do então Império Ultramarino Português, colaborou no segundo festival realizado em terras lusas organizado pelo Hot Clube de Portugal, designado como 2.o Festival de Música Moderna – termo autorizado na época em substituição da designação de Festival de Jazz (essa só foi usada quatro anos depois, em 1958, ano em que a candidatura do “General Sem Medo” abalou o regime de Salazar. Humberto Delgado viria a ser cobardemente assassinado por agentes da PIDE em Espanha em 1965). No cartaz desse festival, a par com os principais músicos e grupos amadores de jazz da época, consta o nome de Curado Ribeiro “(numa reaparição sensacional)” (deixa-se uma análise dos primeiros festivais de jazz em Portugal para futura rúbrica).
Antes de prosseguir (com um olhar mais atento), verifica-se a importante missão formativa dessas primeiras tentativas de organizar festivais de jazz em Portugal levadas a cabo por Luís Villas-Boas e os vários associados do Hot Clube de Portugal. Para além dos concertos de jazz, com a presença de músicos e grupos nacionais e músicos internacionais, durante horas o público, maioritariamente lisboeta, tinha acesso a um variado leque de actividade musicais. Através da análise da correspondência trocada entre Villas-Boas e Manuel Rocha Brito Guimarães (saber mais aqui) sabemos que alguns amadores e amantes de jazz portuenses desciam à capital para assistir a esses festivais, tal como se verificou dezassete anos mais tarde durante os Cascais Jazz.
Relativamente aos Excêntricos do Ritmo, uma década antes do 2.o Festival de Música Moderna, numa carta datada de 1 de Novembro de 1944, enviada por Fernando Curado Ribeiro, na qualidade de colaborador da Emissora Nacional de Radiodifusão, a Victor Santos, então Director-delegado do Rádio Clube Português, consta o seguinte:
«Como consequência da nossa conversa de Setembro p.p., venho propôr [sic] a V Exa. o compromisso de aceitação de programas musicais, que seriam radiofundidos por Rádio Clube Português, pelo tempo de 3 (três) mêses [sic], quinzenalmente, a partir da data do primeiro programa, nas condições e com os pormenores seguintes: 1 – Duas vezes por mês, transmitir-se-ia programas com a duração média de 30 (trinta) minutos; 2 – O primeiro programa realizar-se-ia a 30 de Novembro de 1944; 3 – A continuidade das emissões, comparência dos elementos do grupo, direcção, programação e apresentação do grupo actuante seria única responsabilidade de Curado Ribeiro; 4 – As emissões seriam preenchidas pelas interpretações artísticas (isoladas e em conjunto) de um grupo que usaria o nome de "EXCÊNTRICOS DO RITMO". Este grupo seria composto por 6 (seis) elementos: Nuno da Cunha Gonçalves, Herculano de Almeida, Fernando Silva, Alex Fernandes, Tristão Melo de Sampaio e Fernando Curado Ribeiro; 5 – A remuneração pela actuação do grupo seria de 1.300$00 (mil e tresentos [sic] escudos) por emissão.»
A resposta do Director-delegado do Rádio Clube Português (RPC) igualmente por carta foi célere. A 4 de Novembro de 1944, Victor Santos notificava Curado Ribeiro da sua decisão:
«Vimos dar o nosso acôrdo [sic] à transmissão do programa em rubrica, nas condições nela exaradas.» Deste acordo resultaram os programas dos Excêntricos do Ritmo, transmitidos entre 30 de Novembro de 1944 e 21 de Janeiro de 1945, às quintas-feiras (cerca das 21h00). Tratou-se de programas com música em directo a partir dos estúdios do RCP, os quais contavam com a presença de um conjunto de músicos amadores que apresentavam um repertório variado, incluindo jazz. Através da análise de documentação oficial da época que chegou até aos nossos dias e o cruzamento dessa informação com as grelhas de programação radiofónica publicadas na imprensa escrita da época foi possível identificar todos os programas, guiões de locução, intervenientes, alinhamento e repertório de cada programa. Para além desse alinhamento e respectiva instrumentação em cada composição consta igualmente uma classificação desse repertório segundo os músicos.
O principal objectivo deste texto não é realizar uma análise detalhada dessa documentação, pretende-se apenas partilhar com @s leitor@s algum desse repertório. Um breve olhar permite-nos hoje, à distância, compreender os standards tocados pelos amadores de jazz em Portugal em meados de 1940. Isto porque, conforme tivemos oportunidade de analisar aqui (essas sonoridades que chegaram aos clubes e boîtes cosmopolitas da capital portuguesa em meados da década de 1920, estenderam-se ao longo das décadas seguintes a alguns clubes e hotéis do Porto e Coimbra e a várias estâncias de lazer e casinos do litoral, frequentados maioritariamente pelas elites burguesas e estrangeiros abastados que procuravam refúgio no Portugal supostamente neutro – sob olhar vigilante dos agentes da PIDE.
Sobre esse repertório – no primeiro programa, “Flamingo”, de Ted Grouya e Edmund Anderson, com Herculano de Almeida (piano) e Fernando Curado Ribeiro (voz); “May I Present My Last Boogie-Woogie”, um original de Nereu Fernandes; e “The Man I Love”, de George Gershwin, com arranjos de Herculano de Almeida. No segundo, “When The Quail Comeback To San Quentin”, de Artie Shaw, como solistas Aleixo Fernandes (guitarra), Nereu Fernandes (piano), Herculano de Almeida (órgão) e Mello Sampaio (contrabaixo); “I Had a Craziest Dream”, de Harry Warren e Mack Gordon, com Curado Ribeiro (voz), Herculano de Almeida (piano) e Aleixo Fernandes (guitarra); e “The Man I Love”, de George Gershwin, com arranjo de Herculano de Almeida.
No terceiro e quarto programas, um duo boogie-woogie composto por Antero Faro e Pedro Moutinho; “The Music Stopped”, com Aleixo Fernandes (guitarra), Herculano de Almeida (piano) e Curado Ribeiro (voz), tendo sido referida como «uma novidade do filme “Os Milionários da Ocasião”»; “Stardust”, de Hoagy Carmichael e Mitchell Parish, com arranjos de Herculano de Almeida; e “‘Fats’ Waller Glory”, um original de Nereu Fernandes. No programa seguinte, “I Was Always Alone”, original (música e texto) de Herculano de Almeida (piano) com voz de Curado Ribeiro; um boogie-woogie de Nereu Fernandes (piano) e Aleixo Fernandes (guitarra); e ainda temas como “The Girl In My Dreams Tries To Look like You” e “Our Love Affairs”, pelos Excêntricos do Ritmo.
Outros programas contavam com convidad@s, como foi o caso do pianista amador de jazz, Manuel Menano, que tocava blues e boogie-woogies da sua autoria, e de outros como “Blues on the Downbeat” de Pete Johnson. Outras melodias que iam para o ar nesses programas eram “Stormy Weather”, de Harold-Arlen e Ted Koehler; “Our Love Affair”, de Roger Eden; “Sweet Georgia Brown”, de Ben Bernie, Maceo Pinkard e Kenneth Casey; “Begin the Beguine” de Cole Porter; “Tangerine", de Victor Schertzinger. Em certas ocasiões era também apresentada, a então designada, “Música Negra Norte-Americana” [sic], como o tema “Little Joe from Chicago” de Mary Lou Williams e Henry Wells.
A lista de composições associadas à música sincopada com a participação de Curado Ribeiro não se esgota aqui. No entanto, para não correr o risco deste texto se tornar demasiado descritivo, acredita-se que esta pequena amostra permite @s leitor@s terem uma percepção do repertório jazzístico dos Excêntricos de Ritmo, cantado por Fernando Curado, cuja carreira artística foi abruptamente suspensa com o seu envio para o degredo no então Portugal salazarento.
Tal como os primeiros divulgadores de jazz em Portugal, também muitos dos instrumentistas e cantor@s de jazz eram amador@s. Entre os principais meios utilizados para a divulgação desta música sincopada oriunda do outro lado do Atlântico, antes do aparecimento da televisão, a rádio ocupava um lugar de destaque. Antes do arranque do “Hot Club” de Villas-Boas na Emissora Nacional de Radiodifusão, já os sons do jazz circulavam na rádio em Portugal. Neste período destacavam-se vários programas com a participação de Fernando Curado Ribeiro que tiveram um papel importante na disseminação de informação sobre jazz em Portugal, como foi o caso do seu ABC do Jazz, ou de programas realizados em directo com os Excêntricos de Ritmo, ao longo dos quais Curado Ribeiro interpretava regularmente um repertório reconhecido no meio jazzístico. Esses programas não só́ davam a conhecer @s ouvintes portugues@s as novas sonoridades em voga lá fora, como classificavam esses registos segundo a seguinte categorização: “Música Americana”, “Música Negra Norte-Americana Boogie-Woogie” e “Música Swing Negra Norte-Americana” [sic]. Hoje, uma leitura distanciada ajuda-nos não só a compreender esses repertórios como o entendimento sobre os mesmos em finais da segunda Guerra Mundial em Portugal.
Termino com uma habitual reflexão, desta vez utilizando por empréstimo algumas palavras do homenageado desta rúbrica sobre a política cultural portuguesa na década de 1980, recolhidas numa entrevista na imprensa diária. Apesar dos seus trinta e vários anos de distância, revelam-se em certa medida actuais num Portugal já não salazarento (apesar dos resquícios que pairam n@ AR), no entanto, ainda carente de apoios no que diz respeito ao jazz e músicas improvisadas, tal como outras manifestações artísticas e culturais:
«Acho que há um divórcio entre política e cultura, mas há alguma vontade de colher dividendos estranhos da cultura através da política... Sempre pensei que em Portugal existem valores que se colocam a par dos melhores, faltando-lhes apenas o incentivo, o apoio, a compreensão que lhes são devidos.»
O autor segue a ortografia anterior ao novo Acordo Ortográfico.
Sobre o autor:
Pedro Cravinho é cofundador e membro da Direcção da Rede Portuguesa de Jazz – área da investigação. Director dos Arquivos da Faculty of Arts, Design and Media da Birmingham City University (BCU). Investigador Sénior em Estudos de Jazz no Birmingham Centre for Media and Cultural Research (BCMCR), co-líder do BCMCR Jazz Studies e History, Heritage & Archives Research Clusters. Investigador do CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar “Cultura, Espaço e Memória” (Portugal) da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Membro das direções do National Jazz Archive (Inglaterra), Scottish Jazz Archive (Escócia), da Duke Ellington Society (Reino Unido) e membro do West Midlands Archives (Inglaterra). Cofundador das conferências internacionais ‘Documenting Jazz’ e autor de diversos textos sobre jazz em Portugal. O último acabado de ser publicado, Encounters with Jazz on Television in Cold War Era Portugal: 1954 – 1974 (Routledge, 2022), dedicado a Manuel Jorge Veloso.