Pharoah Sanders
Farrell Sanders, dá cá um abraço
O saxofonista Pharoah Sanders morreu no dia 24 de setembro, aos 81 anos. Convidámos Nuno Leal – copywriter criativo, antigo colaborador da saudosa webzine Bodyspace – a prestar-lhe homenagem.
Nota: A conversa que se segue é uma homenagem ficcionada e improvisada. Qualquer semelhança com a realidade só alguém no céu o poderá dizer. A certa altura, quem diz o quê, fica meio free, deixo para a sua imaginação. Farrell era o nome próprio de Pharoah. Uma coisa é certa: se aconteceu, falaram inglês.
- Olá John.
- Meu amigo. Farrell Sanders, dá cá um abraço. Há quanto tempo.
- 55 anos creio... Demorei 55 anos para te rever, amigo.
- “The Creator Had a Master Plan”. Era tu viveres até aos oitenta, para mim o plano era outro.
- Alice! Minha querida...
- Dá cá um beijinho, meu querido Farrell. Finalmente juntos. E olha que está ali mais ao fundo.
- Mr. Dewey Redman! Saudades dele pá, meu companheiro de escola. Aqui dá para ouvir música?
- Dá, às vezes. E para tocar também.
- Saudades daqueles tempos da Impulse, o “Ascension”... “Meditations”... “Om”...
Eu pessoalmente gostei muito do trabalho que fizeste depois com a minha Alice, Farrell. E aliás, gostei muito do teu trabalho a solo... Grande astral. Adoro o “Karma”, o “Black Unity”...
- A sério?! Muito obrigado mestre. Sim, curti muito. Expressar-me no melhor sentido que consigo. Experimentar até ao fim... Agora ainda há pouco tempo ainda fiz um disco com um miúdo, Sam Shepherd, conhecido como Floating Points... ficou bem, deu que falar. Se soubesse que dava para trazer som, tinha trazido, um vinil ou uma pen...
- Sabes que a Alice sabe coisas... (risos) Olha o Dewey, já te viu...
- Mr. Dewey Redman, dá cá um abraço!
- Pharoah! Meu amigo, como és grande. Tu e o John chegaram a um nível quase utópico, uma forma celestial pancultural-afro-galáctica, já lhe disse.
- Ahaha só tu... Mas só o John tem uma igreja em seu nome. Igreja Ortodoxa Africana de Coltrane. Saint John. (risos)
- Não fui eu que disse que o John era Deus, tu Pharoah eras o filho e eu mesmo o Espírito Santo?
- Olha o grande Albert Ayler, dá cá um abraço!!!
- My dear Mr. Pharoah Sanders, bem-vindo. Os maiores de sempre, juntos.
- Por falar nisso, o Miles está por aí? (risos)
- Calma, sax é sax, trompete é trompete! (risos)
- O Miles ainda não vi, não sei se está aqui, falaram-me que ele ainda anda na companhia dos seus demónios...
- Velho Miles... E como recém-chegado não podia deixar de perguntar, e Deus? Quando vou Vê-lo?
- Deve chamar-te daqui a pouco. Acho que ainda está a ver um filme com o Jean-Luc Godard.